segunda-feira, 12 de fevereiro de 2024

Diogo Schelp - As dores do bolsonarismo

O Estado de S. Paulo

Tarcísio e Zema têm o desafio de manter o ex-presidente a uma distância segura para 2026

O bolsonarismo fagocitou a direita brasileira. Qualquer aspirante à cadeira de presidente que pretenda antagonizar com o petismo terá dificuldade de fazê-lo fora das raias bolsonaristas. Por esse motivo, a Operação Tempus Veritatis impõe um dilema a políticos cotados para disputar a Presidência em 2026, como os governadores Tarcísio de Freitas (Republicanos), de São Paulo, e Romeu Zema (Novo), de Minas Gerais.

O dilema consiste em se solidarizar com as dores do bolsonarismo e, ao mesmo tempo, não se deixar contaminar pelos efeitos tóxicos da suspeita de que Jair Bolsonaro liderou um plano fracassado de golpe de Estado. Ou seja, é preciso manter o ex-presidente e tudo o que ele representa a uma distância segura. Será preciso equilibrar lealdade bolsonarista de um lado com apego à ordem institucional do outro.

De imediato, Tarcísio mexeu apenas no segundo lado da balança ao afastar o major da reserva Ângelo Martins Denicoli, um dos alvos da operação da PF, do cargo que ocupava no governo de São Paulo. De resto, Tarcísio e Zema, assim como outros governadores do Sul e do Sudeste, têm evitado se manifestar sobre a operação da PF contra o ex-presidente. Serão cobrados por isso pela militância bolsonarista. Principalmente Tarcísio, que se elegeu em São Paulo apadrinhado por Bolsonaro. Cedo ou tarde, ele precisará sinalizar que compartilha de algumas das dores do bolsonarismo para equilibrar a balança do seu capital político.

Essas dores são as mesmas desde que Bolsonaro foi derrotado nas urnas em 2022, mas foram potencializadas quando a PF bateu à porta de seus aliados e recolheu o seu passaporte, na semana passada: a crença de que o “sistema” atuou contra a “verdadeira” vontade da maioria nas eleições, a convicção de que Bolsonaro e seu entorno sofrem perseguição política e a percepção de que os valores conservadores estão sob grave ameaça.

Solucionado o dilema entre lealdade bolsonarista e rechaço ao golpismo, Tarcísio e Zema podem até se beneficiar do encontro de Bolsonaro com a Justiça. Nenhum dos dois pertence ao PL, o partido do ex-presidente que está sendo sugado para o buraco das suspeitas de golpe. Além disso, as restrições impostas a Bolsonaro, como a proibição de falar com os outros investigados, reduzem sua capacidade de articulação política. Isso abre espaço para que seus herdeiros políticos conquistem autonomia. Não há vácuo no poder.

3 comentários:

Daniel disse...

Não são só estes figurões que estão calados... Até o filósofo bolsonarista Denis Rosenfield evitou falar das investigações sobre a tentativa de golpe liderada por Jair Bolsonaro e apoiada por generais de 4 estrelas, comandante da Aeronáutica e dezenas de militares de alto escalão.

ADEMAR AMANCIO disse...

Pois é.

Anônimo disse...

■■Que país difícil é o Brasil !

■O Brasil é um país em que o esquartejador e traficante Fernandinho Beira-Mar é denunciado fortemente pelos crimes que comete e, quando vamos ver, os que combatem mais radicalmente Beira-Mar são protetores radicais do chefe do crime organizado Marcola.

■E o mesmo se repete no sentido inverso e o chefe do crime Marcola tem seus protetores radicais e que combatem radicalmente Fernandinho Beira-Mar.

=》E os protetores radicais se calam radicalmente em relação aos crimes de seus protegidos.

■■Eu, que queria ver todos os brasileiros condenando os dois --condenado tanto Beira-Mar como Marcola-- me surpreendo mais com o fato de estes bandidos conseguirem ter quem os apoie, e não são poucos os apoiadores de cada um.

E, bandidos como são e contando com fidelidade cega dos que os apoiam, é bem perigoso ser contra os dois criminosos e combater os dois ao mesmo tempo.

Todos sabem que os dois são criminosos, mas o poder que cada um deles tem sobre seus respectivos admiradores é tão grande que coitado de quem fala para um seu admirador que ele devia pagar pelos crimes.