O Estado de S. Paulo
A coisa começou a ruir quando Pazuello
participou de um comício de Bolsonaro e não foi punido
Oque se pode considerar como “hard facts” no
material que embasou prisões, buscas e apreensões contra Bolsonaro, aliados e
militares dá a ideia de um grupo motivado pela intenção geral de “virar a mesa”
– isto é, dar um golpe –, mas sem sequer uma noção clara de como fazê-lo. E,
principalmente, sem a necessária força militar.
As transcrições de conversas sobretudo entre os mais próximos de Bolsonaro revelam um grupo preso às próprias quimeras políticas e tão incompetente a ponto de gravar parte do que se pode chamar de “conspiração”, embora mais pareça uma conversa de botequim em Copacabana de militares de pijama.
O ponto nevrálgico da investigação não é mais
a figura de Bolsonaro, suficientemente comprometida e envolvida em processos de
vários tipos, fora esse. É saber até onde chega o estrago dentro da instituição
das Forças Armadas. Qualquer que fosse o roteiro do golpe, que até aqui não
está claramente descrito na investigação, parece claro que, de saída, os
comandantes de tropa não queriam participar.
Sabia-se da penetração do bolsonarismo na
cúpula das Forças, o que se torna mais nítido agora com o material divulgado
pela PF. Ela foi ao ponto de provocar uma divisão entre comandantes no
Exército, com a maioria mantendo o que sempre achou de Bolsonaro: um
capitãozinho rebelde, cuja única serventia era varrer o petismo da paisagem
política.
Mas os atuais comandantes constatam hoje
consternados que a investigação passou por cima da instituição, que não foi
capaz de matar na raiz o bolsonarismo em suas fileiras. Que generais de quatro
estrelas foram humilhados na operação da PF, sem que a instituição possa
reagir. Nem deve.
Quando é que a coisa toda afundou numa
instituição que se esforçara para recuperar confiança, prestígio e imagem?
Talvez naquilo que era público e notório, mas os próprios militares preferiram
fechar os olhos. Foi quando o general Pazuello participou de um comício de
Bolsonaro, violando o Estatuto das Forças Armadas, e o Exército não o puniu.
Uma vez rompida a disciplina no topo, o resto
é consequência.
Um comentário:
Verdade.
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