Folha de S. Paulo
Pragmatismo faz parte do jogo, mas esquerda
precisa forçar debate e enfrentar agenda na segurança pública
Qualquer presidente de esquerda sabe
que governar com
um Congresso de direita significa escolher algumas batalhas e
abrir mão de muitas outras. O pragmatismo é parte do jogo, mas só uma overdose
de resignação é capaz de transformar brigas perdidas em presentes generosos
para a oposição.
O governo entregou os pontos na votação do projeto que restringe a saída temporária de presos, aprovado na Câmara e no Senado. Sob o argumento de que aquele não era um tema de interesse do Planalto, os líderes de Lula no Congresso cederam a adversários um raro momento de protagonismo nacional numa área considerada delicada.
Descontado o fato de que o Planalto deveria
estar mais do que interessado em discussões sobre política carcerária, seria
mesmo um esforço inútil. A limitação da saidinha é uma daquelas propostas que
pegam carona numa indignação genérica com casos de violência,
ignoram dados sobre a eficácia de políticas públicas e são exploradas sem
nenhuma profundidade por populistas.
Em vez de forçar um debate maduro ou negociar
uma redução de danos, o governo deixou o palco livre para a oposição. Coube ao
senador Sergio Moro, por exemplo, a apresentação de uma emenda que flexibilizou
a proposta original e permitiu a
saidinha de detentos para estudar.
Outros expoentes do bolsonarismo fizeram
festa. O secretário de Segurança de São Paulo deu uma pausa no comando da
barbárie policial do estado e reassumiu o mandato de deputado para relatar o
projeto. Já Tarcísio de Freitas disse que a aprovação era "um passo
fundamental" para acabar com a impunidade.
Políticos de esquerda não precisam embarcar
na propaganda enganosa do governador paulista, mas deveriam contabilizar o
desgaste que sofrem quando tratam a segurança pública como tabu e saem de
campo. Se a nova passagem pelo poder não obrigá-los a enfrentar essa agenda, a
direita continuará dando as cartas sozinha em tópicos sensíveis, com alta
reverberação no eleitorado.
Um comentário:
Pois é.
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