Folha de S. Paulo
Discussão tardia dentro do governo reflete
visões distintas sobre dignidade e trabalho
Lula não
hesitou antes de incluir o assunto Uber na
campanha eleitoral. O petista dizia com convicção que era preciso regulamentar
o trabalho por aplicativo de motoristas e entregadores. "Tem que ter
descanso semanal remunerado, jornada de trabalho, férias, senão ele voltou a
ser escravo", afirmou, em abril de 2022.
O tema entrou no governo como prioridade. O Ministério do Trabalho criou um grupo para elaborar um projeto de lei, chamou empresas e ouviu trabalhadores. Houve tanta incerteza desde o início que foi preciso desmembrar a proposta. Em março, Lula assinou um texto que tratava só de motoristas de carros, deixando as motos para depois.
O projeto chegou ao Congresso há poucas
semanas, mas há gente no governo decretando a morte da proposta. Alguns
auxiliares de Lula dizem que não há votos para aprovar uma regulamentação
ampla. Outros aliados argumentam que os petistas já haviam perdido o debate
público antes do início das discussões.
Reuniões sobre o tema nos últimos dias
ficaram marcadas por uma tensão entre governistas com opiniões distintas sobre
o mundo do trabalho. Num encontro, um petista disse ao ministro Luiz Marinho que
era preciso respeitar opções do trabalhador e que não era possível ficar preso
à lógica sindical que formou o PT.
A discussão tardia dentro do governo reflete
um conflito entre a visão histórica de Marinho e a maneira como muitos
trabalhadores enxergam a atividade. Os pontos mais vulneráveis da proposta
seriam o pagamento por hora trabalhada e a
determinação de pagamento de contribuição previdenciária —o
que, para alguns motoristas, engessaria e aumentaria o custo da atividade.
Na campanha, Lula definiu bem o assunto como
uma questão de dignidade desse trabalhador. Ele tem dificuldade para
transformar a defesa numa ação política porque há uma ação organizada de
oposição nesse segmento, mas também porque certos integrantes do governo ainda
operam mais perto de princípios jurássicos do que da realidade atual.
Um comentário:
Verdade.
Postar um comentário