Folha de S. Paulo
Frustrados com Lula buscam alternativa, mas
ricos 'frente ampla' rejeitam bolsonarismo
Certa elite brasileira adotou a candidatura
de Tarcísio
de Freitas a presidente em 2026, por gosto e por pragmatismo bruto,
pois ainda não há alternativa na direita. A campanha midiática para passar um
verniz no governador de São Paulo é
cada vez mais legível, audível e visível.
Figuras típicas dessa turma aceitam Tarcísio
assim como ele é. Outras, não. Mas podem se render a ele. Essa a novidade.
Gente com aversão ao programa destrutivo do bolsonarismo pensa em adotá-lo, dar-lhe polimento e expandir as alianças do governador paulista. O problema é como uma candidatura Tarcísio pode ser viável sem a transfusão de sangue de Jair Bolsonaro. Um Tarcísio muito limpinho levaria Bolsonaro a ameaçar um apoio a Caiado?
Certa elite brasileira desanimou-se de vez
com o governo Lula 3
ao longo do primeiro terço de 2024. Coisas como a dívida do governo ainda sem
controle e intervenções
na Petrobras têm peso. A falta de ação e rumo na educação e no
programa ambiental causa decepção, irritação ou desprezo.
Essas pessoas são parte minoritária do mundo
rico com algum interesse político ou social. No espírito, são como a velha
elite tucana, mais "programática", "técnica", por assim
dizer. Nada a ver com o que se tornou o PSDB, que morreu de modo purulento
entre 2014 e 2016, com febre golpista. São os mesmos que aderiram à
"frente ampla" que votou em Luiz Inácio Lula da Silva no segundo
turno de 2024.
Não são, claro, um partido, nem há
demarcações claras de grupos. Muitas dessas pessoas ainda são próximas de
Luciano Huck, por exemplo, que em 2014 apoiou a candidatura presidencial de
Aécio Neves (PSDB-MG). Em 2017, Paulo Guedes achava que Huck seria um veículo
para seu programa ultraliberal. Não rolou, aderiu a Jair Bolsonaro. Aécio, por
sua vez, inspirou ideias como desconfiar das urnas e campanha legislativa para
destruir governos, como fez com Dilma 1. Como se pode ver, trata-se de um
contínuo, um espectro de cores ou uma ciranda.
Parte dos "frente ampla" diz que o
candidato viável da oposição terá algum apoio bolsonarista, mas que é preciso
adotar uma versão civilizável dessa criatura da direita. Por isso, haja
"jantares" de aproximação. Para quem tem a fantasia da "Faria
Lima" na cabeça, é preciso dizer que muita gente do topo da banca e da
finança tem aversão a Bolsonaro.
Essa conversa sobre alternativas se tornou um
zunzum mais alto desde março. Suscitou mais fofoca depois do jantar
que Huck ofereceu a Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP) e a Roberto
Campos Neto, presidente do Banco Central, na sexta-feira, 17 de maio. O jantar
causou impressão mesmo entre aqueles próximos do apresentador e que estão
acostumados a esse tipo de reunião.
Os "frente ampla" mais centristas
torcem a cara. Dizem que Tarcísio
toca uma política de segurança violenta, que administra a educação de modo
escandaloso e incompetente, que quer detonar a ciência e a universidade
paulistas, que não tem programa social, de aumento de oportunidades, e que
despreza o problema da desigualdade.
Para alguns das turmas dos
"jantares", Huck queria tornar Tarcísio mais palatável para a família
Marinho, proprietária da Globo; para outros, Huck seria um batedor, atenderia a
uma encomenda da empresa.
Participantes do jantar de Huck disseram que
o assunto eleitoral no Brasil mais e mais será a segurança pública; que o povo
vai ficar animado com a linha-dura. Outros próximos dizem que Campos Neto
teria, sim, ambição política, de ser ao menos ministro da Fazenda de Tarcísio,
de quem é amigão.
Empresários, altos executivos e ricos em
geral não inventam candidatos. Quem define nomes é a política. Mas a elite pode
adotar uma candidatura linha-dura, que seria normalizada, difundida e adoçada
com fantasias político-ideológicas. Em parte, fizeram isso com Bolsonaro já em
fins de 2017.
A eleição está longe, mas está difícil de
imaginar um nome novo para a direita (aliás, para a esquerda também). Sempre
pode haver balões de ensaio que peguem, como Fernando Collor em 1989. Naquela
eleição, Ronaldo Caiado (União Brasil), ora governador de Goiás, também
concorreu, candidato ruralista do cavalo branco. Mas Caiado seria
"conversa difícil", "esquentado", com ideias ruins sobre
reforma tributária e dívida pública, e não teria voto bastante, em especial no
Nordeste, dizem certas pessoas.
Tarcísio apenas seria candidato se houvesse
uma degradação grande e certa das possibilidades de Lula, difícil de imaginar,
menos ainda até fins de 2025. Gilberto Kassab (PSD), secretário de governo de
Tarcísio, diz que o governador não seria candidato de jeito nenhum em 2026
(hum). Pessoas dos "jantares" dizem, de resto, que seu lançamento
precoce pode causar uma crise no bolsonarismo, divisões na direita e ataques de
adversários de centro e esquerda.
O fato é que querem lançar Tarcísio e
normalizá-lo; que há quem torça o nariz para o bolsonarismo, mas se desespera
com a falta de alternativa, gente que está frustrada com o governo Lula e
decepcionada com o fato de o presidente ter esquecido da "frente
ampla", que era para inglês ver.
2 comentários:
Péssima análise de um colunista que até comenta mais corretamente em outros textos. Mas infelizmente o seu claro viés de esquerda desta vez o atrapalhou. Não sou bolsonarista e muito menos petista. Acredito que o Brasil não aguenta mais o ex presidiário Lula e o agora cassado Bolsonaro.
Pode ser,mas onde estaria a terceira via?
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