sexta-feira, 22 de agosto de 2008

PETRÓLEO, ESTADO E FÉ


DEU NA FOLHA DE S. PAULO
Clóvis Rossi


Todo mundo já enfatizou a necessidade de que haja um bom debate sobre quem vai explorar o petróleo do pré-sal. Faltou dizer, acho, que esse debate não pode ser teológico.

Explico: durante a maior parte do século passado, predominou no debate o ataque ou, no mínimo, a desconfiança em relação a quem criticava a presença do Estado na economia.

Eram todos ou quase todos imediatamente rotulados de liberais, neoliberais, direitistas, assalariados da Fiesp ou da Febraban -ou de quem estivesse na moda a cada momento.

Raramente se discutiam os argumentos; desqualificava-se diretamente o argumentador. Aí veio o fracasso irremediável do comunismo, e o sinal do debate se inverteu: os pró-Estado passaram a ser jurássicos, comunistas não-reciclados, petistas empedernidos (antes, claro, de o PT chegar ao poder).

De novo, os argumentos não contavam no debate; contava a desqualificação do interlocutor. Torço para que os debatedores de agora já tenham desopilado seus fígados e possam deixar de encarar a presença ou ausência do Estado como, digamos, a virgindade de Maria.

Acredita-se nela por fé, não por argumentos. Não dá para usar a fé no debate sobre o papel do Estado. Se o hiperestatismo foi um fracasso, não quer dizer que empresas estatais tenham sempre o mesmo destino.

Vide a Petrobras, sucesso de público e de crítica mesmo entre a mídia mais refratária ao estatismo, mas também capaz de desfrutar de injeção suculenta de capital privado via Bolsa de Valores. Em termos mais amplos, os países nórdicos têm forte presença do Estado e nem por isso fracassaram.

Ao contrário, seu modelo é o menos ruim inventado pelo ser humano até agora. Valdo Cruz, nesta mesma página, duvidou ontem das chances de copiá-lo. Tendo a concordar com ele, mas torço para que ambos estejamos errados.

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