Celso Ming
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO
Nem sigla é. Trata-se de um acrônimo, ou seja, uma palavra formada pela inicial de quatro outras: Brasil, Rússia, Índia e China. E mesmo esses quatro nomes poderiam formar outros acrônimos, como Birc, Crib ou Cirb. Mas o que ficou (e colou) foi esse aí: Bric.
Não constituem um grupo propriamente dito, pelo menos até agora. Têm em comum apenas o fato de que são hoje os quatro emergentes mais importantes na avaliação do economista Jim O?Neill, do banco Goldman Sachs, que inventou a palavra em 2001, acompanhada da observação de que designa os países que em 30 anos poderiam figurar como as novas potências do século 21. Hoje perfazem 15% do PIB global avaliado em US$ 60,7 trilhões. Mas, nos cálculos do Goldman Sachs, em 2030 podem chegar a 50%. A experiência mostra como é perigoso fazer projeções de longo prazo. De todo modo, o acrônimo ficou fácil de pronunciar e, em inglês, lembra tijolo (brick), um dos elementos básicos que integram uma construção.
Num mundo em grande transformação, até mesmo o núcleo ainda hegemônico formado pelo grupo informal dos sete países mais ricos (G-7), ampliado para G-8 com a incorporação da Rússia, já sente necessidade de integrar os emergentes quando se trata de tomar as decisões estratégicas que conduzirão os interesses públicos do Planeta Terra. Daí o novo grupo informal de decisão estratégica, o G-20.
A reunião de cúpula dos chefes de Estado dos Brics, realizada ontem na cidade de Ecaterimburgo, na Rússia asiática, não foi convocada para criar um contraponto ao G-8, até porque a Rússia faz parte dos dois grupos. Pode-se dizer que, apesar das diferenças, há certa complementaridade econômica entre os Brics. China e Índia são grandes importadores de petróleo e de matérias-primas. Rússia e Brasil já são importantes produtores de petróleo e, além disso, são grandes fornecedores de matérias-primas. No entanto, mais apropriado dizer que os conflitos entre Brasil, Rússia e Índia com a China podem crescer e que os quatro do Bric estão mais unidos pelo que podem tornar-se do que pelo que já são.
Mais do que isso, os interesses da China estão entranhadamente misturados aos dos Estados Unidos, a ponto de se dizer que constituem uma relação simbiótica. E só isso poderia indicar que a China esteja mais amarrada ao futuro do G-8 do que a própria Rússia, e menos ao agrupamento Bric.
A reunião de cúpula de ontem foi notável não pelos seus frutos imediatos, mas pelo seu potencial estratégico. Foi Napoleão que um dia predisse que o mundo tremeria quando a China despertasse. No imaginário dos senhores do mundo, trata-se de um encontro dessa China aí com mais três colossos futuros que podem ocupar espaços hoje mal ocupados pelo G-7.
O pronunciamento emitido após a reunião de cúpula foi curto e seco. Externou apenas o comprometimento com a reforma do sistema financeiro e o desejo dos quatro de participarem mais das grandes decisões globais. Mas silenciou sobre um tema explosivo, que é o da criação de uma nova moeda internacional de reserva que pudesse assumir funções hoje monopolizadas pelo dólar.
Mas ninguém pense que essa reforma do sistema monetário do mundo esteja à vista. Nem que se possa providenciar tão cedo uma moeda com essa força. Além disso, os países do Bric detêm juntos nada menos que US$ 2,8 trilhões em reservas , quase todas elas em dólares. Seria contra o interesse deles que o dólar se desvalorizasse rapidamente.
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO
Nem sigla é. Trata-se de um acrônimo, ou seja, uma palavra formada pela inicial de quatro outras: Brasil, Rússia, Índia e China. E mesmo esses quatro nomes poderiam formar outros acrônimos, como Birc, Crib ou Cirb. Mas o que ficou (e colou) foi esse aí: Bric.
Não constituem um grupo propriamente dito, pelo menos até agora. Têm em comum apenas o fato de que são hoje os quatro emergentes mais importantes na avaliação do economista Jim O?Neill, do banco Goldman Sachs, que inventou a palavra em 2001, acompanhada da observação de que designa os países que em 30 anos poderiam figurar como as novas potências do século 21. Hoje perfazem 15% do PIB global avaliado em US$ 60,7 trilhões. Mas, nos cálculos do Goldman Sachs, em 2030 podem chegar a 50%. A experiência mostra como é perigoso fazer projeções de longo prazo. De todo modo, o acrônimo ficou fácil de pronunciar e, em inglês, lembra tijolo (brick), um dos elementos básicos que integram uma construção.
Num mundo em grande transformação, até mesmo o núcleo ainda hegemônico formado pelo grupo informal dos sete países mais ricos (G-7), ampliado para G-8 com a incorporação da Rússia, já sente necessidade de integrar os emergentes quando se trata de tomar as decisões estratégicas que conduzirão os interesses públicos do Planeta Terra. Daí o novo grupo informal de decisão estratégica, o G-20.
A reunião de cúpula dos chefes de Estado dos Brics, realizada ontem na cidade de Ecaterimburgo, na Rússia asiática, não foi convocada para criar um contraponto ao G-8, até porque a Rússia faz parte dos dois grupos. Pode-se dizer que, apesar das diferenças, há certa complementaridade econômica entre os Brics. China e Índia são grandes importadores de petróleo e de matérias-primas. Rússia e Brasil já são importantes produtores de petróleo e, além disso, são grandes fornecedores de matérias-primas. No entanto, mais apropriado dizer que os conflitos entre Brasil, Rússia e Índia com a China podem crescer e que os quatro do Bric estão mais unidos pelo que podem tornar-se do que pelo que já são.
Mais do que isso, os interesses da China estão entranhadamente misturados aos dos Estados Unidos, a ponto de se dizer que constituem uma relação simbiótica. E só isso poderia indicar que a China esteja mais amarrada ao futuro do G-8 do que a própria Rússia, e menos ao agrupamento Bric.
A reunião de cúpula de ontem foi notável não pelos seus frutos imediatos, mas pelo seu potencial estratégico. Foi Napoleão que um dia predisse que o mundo tremeria quando a China despertasse. No imaginário dos senhores do mundo, trata-se de um encontro dessa China aí com mais três colossos futuros que podem ocupar espaços hoje mal ocupados pelo G-7.
O pronunciamento emitido após a reunião de cúpula foi curto e seco. Externou apenas o comprometimento com a reforma do sistema financeiro e o desejo dos quatro de participarem mais das grandes decisões globais. Mas silenciou sobre um tema explosivo, que é o da criação de uma nova moeda internacional de reserva que pudesse assumir funções hoje monopolizadas pelo dólar.
Mas ninguém pense que essa reforma do sistema monetário do mundo esteja à vista. Nem que se possa providenciar tão cedo uma moeda com essa força. Além disso, os países do Bric detêm juntos nada menos que US$ 2,8 trilhões em reservas , quase todas elas em dólares. Seria contra o interesse deles que o dólar se desvalorizasse rapidamente.
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