segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Cenário do mercado trabalho brasileiro é similar ao dos EUA

Viviane Monteiro
DEU NA GAZETA MERCANTIL

A turbulência observada no mercado de trabalho nacional já é idêntica a dos Estados Unidos. O que muda é a intensidade das demissões que acontecem no Brasil e nos Estados Unidos (EUA), origem da crise. Essa é a avaliação do Técnico de Planejamento e Pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), Roberto Gonzalez, em entrevista à Gazeta Mercantil. Nos Estados Unidos, entre novembro e dezembro as demissões já atingem 1,108 milhão. Enquanto no Brasil esse número pode representar mais da metade, aproximadamente 650 mil cortes em igual período, caso o Ministério do Emprego e Trabalho confirme nesta segunda-feira demissões em dezembro em cerca de 600 mil. Esse número foi confirmado na última quinta-feira pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O especialista do IPEA prevê resultado negativo do emprego em janeiro, e já vê uma reversão na tendência de queda da taxa de desemprego em 2009. A curva de desemprego no Brasil começou a declinar a partir de 2005. "Há uma tendência de aumento do desemprego no País, mas não temos idéia de quão forte será esse aumento". Conforme o especialista do IPEA, diante de tal turbulência, muitos trabalhadores com contratos temporários não devem ser efetivados neste início de ano, o que deve gerar saldo de emprego negativo.

Caso se confirme a projeção do especialista do órgão, vinculado ao Ministério do Planejamento, esse seria o primeiro mês do ano negativo desde janeiro de 1999. O professor do departamento da Universidade de Brasília (UnB), Jorge Pinho, confirma que a tendência é de alta da taxa de desemprego no Brasil este ano. Ele prevê que a taxa voltará aos patamares de 2002, e atingirá 10% de desemprego, o que pode representar algo em torno de 2,3 milhões pessoas desempregadas nas regiões metropolitanas pesquisadas em 2009. Em novembro, a taxa ficou em 7,6%, segundo o último dado da Pesquisa Mensal de Emprego do IBGE. Existem economistas que acreditam que a taxa poderá atingir até 13%, até então o pico, observado em abril de 2004.

O cenário é preocupante, explica Gonzalez, porque a expectativa é de que a produção industrial "não cresça", diante da redução do índice de confiança do consumidor na economia e redução do consumo. Dessa forma, as empresas começam a demitir e isso pode agravar ainda mais o efeito da crise no Brasil. Ainda assim, diz, só será possível saber o verdadeiro impacto da crise com o passar do tempo, quando novos dados forem divulgados.

Os dirigentes do IPEA apresentarão amanhã o estudo "Crise econômica internacional e possíveis repercussões: primeiras análises". Segundo o IPEA, serão analisadas "as manifestações e as reações governamentais à crise econômica internacional, bem como suas possíveis repercussões no Brasil".

A crise financeira mundial freou o mercado de trabalho no Brasil a partir de outubro de 2008, quando a criação de empregos desacelerou de 205,2 mil vagas em setembro para 61,4 mil em outubro. O cenário se agravou e em novembro, as demissões superaram em 40,8 mil as contratações, segundo os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED). As demissões sazonais de fim de ano em 2008 foram ampliadas pelo impacto da crise. Em dezembro, a previsão é de que as demissões dobrem a média mensal histórica de 300 mil e cheguem a algo em torno de 600 mil.

Políticas de investimento

Para tentar reverter esta tendência, o professor da UNB diz que o governo deverá tomar as medidas necessárias, ou seja, adotar políticas de investimento pesado em setores geradores de emprego, como infra-estrutura e construção civil. A expectativa é que o presidente Lula deve anuncie novas medidas de socorro à economia brasileira esta semana.

Sem querer fazer estimativas sobre a evolução da taxa de desemprego este ano, o especialista do IPEA, Gonzalez disse que as demissões estão mais avançadas nos Estados Unidos, em relação ao Brasil, porque "lá a crise bateu primeiro" no mercado doméstico. Dessa forma, a turbulência impactou mais cedo o consumo e o mercado de trabalho dos Estados Unidos. Já no Brasil, explica Gonzalez, o efeito da crise veio posteriormente e, primeiro, entrou "por outros canais": pela falta de crédito e baixa liquidez do sistema financeiro.

Até outubro de 2008, o ministro do Trabalho Carlos Lupi, mantinha a previsão de fechar 2008 com mais de 2 milhões de novas vagas formais. A expectativa não se sustentou e o ministro passou a reduzir as previsões para algo acima de 1,8 milhão. Para 2009, o ministro prevê 1,5 milhão de novas vagas.

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