sábado, 6 de fevereiro de 2010

A lição do bom senso mineiro;; Villas-Bôas Corrêa

DEU NO JORNAL DO BRASIL

Entre as bravatas do presidente Lula para provar que tem uma saúde de ferro e que a disparada da pressão para os 18 por 12 no susto da semana passada e a lição de bom senso do mineiro governador Aécio Neves vai a distância que separa diferenças de temperamento e das regiões deste país continental.

Ora, o pernambucano de nascença e paulista por aclimatação, casamento, família e a carreira singular e única do torneiro mecânico que se torna o maior líder sindical do país e dispara na carreira política, saltando barreiras de vitórias e derrotas até a eleição, na terceira tentativa, a presidente da República, reeleito e correndo o risco de uma recaída com o desafio às recomendações de cautela dos médicos, não é nenhum super-homem. As fotos nos jornais e as imagens nas televisões mostram a imagem, preocupante, de um senhor com os ralos cabelos no cocuruto ensopados do suor que escorre pelo rosto, os olhos vermelhos, o macacão grosso de operário da Petrobras com uma coroa de suor em volta do pescoço, a barba branca e a fisionomia de extrema exaustão.

Entende-se que a fibra do lutador que venceu na vida aposte tudo, até a saúde, para eleger a ministra-candidata Dilma Rousseff, da sua exclusiva escolha – sem dar a menor bola para os muitos pretendentes do PT – para sucedê-lo nas eleições que se aproximam entre as chuvas torrenciais que inundam São Paulo e castigam quase todos os estados, do Norte e Nordeste ao Sul, e desafiam o governo a gastar bilhões nos remendos de emergência.

Mas há um limite que não deve ser ultrapassado. O presidente não pode descuidar da sua saúde e correr os riscos da insensatez. E, depois, não há razão para esta disparada à caça do voto. As pesquisas, que são os indicadores mais consultados, mostram a candidata do presidente encostando-se no virtual candidato da oposição, governador José Serra. E a campanha que o presidente e a sua candidata anteciparam, com o frágil pretexto de que visitava as obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), do Minha Casa, Minha Vida que promete construir 1 milhão de residências populares, muitas a serem destinadas aos desabrigados pelas enchentes.

Campanhas costumam pregar peças aos sôfregos. As montanhas mineiras ensinam as lições da serenidade e da paciência. E o governador tucano Aécio Neves, neto de Tancredo Neves, o presidente que não tomou posse, surpreendeu os veteranos de Brasília com um desempenho de craque. Nas preliminares, testou a chance de disputar a vaga de Lula, com o apoio da base mineira e bons índices nas pesquisas. Mas, com o governador José Serra em cima do muro, Aécio refez as contas e fez a sua opção de disputar uma vaga de senador.

A pressão é para que se candidate a vice e, se eleito, passar quatro ou oito anos em férias, para as temporadas nas praias e nas noites do Rio da sua preferência nos fins de semana.O governador Aécio Neves deu uma freada com declaração categórica: “Fiz uma opção clara hoje: serei candidato ao Senado por Minas e, no Congresso, quero dar continuidade ao trabalho que iniciamos aqui”.

Aécio usou o freio de mão. No momento, são mínimas as possibilidades de trocar uma senatoria certa por uma vice duvidosa. A candidata de Lula, Dilma Rousseff, tem o apoio de um esquema fortíssimo: Lula crava o índice de 82% de aprovação nas pesquisas. A sua facilidade de comunicação nos improvisos atrai multidões aos comícios. E o presidente já passou o recado que pretende correr o país com a candidata até o último dia do prazo. E mesmo sem a candidata continuará a inaugurar obras todos os dias, suando na soleira ou debaixo de chuva.

Só não se fala no principal: o compromisso com a convocação de uma Assembleia Constituinte para a limpeza do entulho dos três poderes. Os flagrantes obscenos da distribuição de pacotes de notas no gabinete do governador Arruda de Brasília é apenas um indicador do fracasso de Brasília antes de estar pronta, um canteiro de obras no cerrado que virou a ceva das mordomias, da roubalheira, das propinas que, em níveis diversos, corroem a credibilidade dos três poderes.

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