sábado, 16 de abril de 2011

Lá vem o Patto! :: Urbano Patto

Participei na última quarta-feira de um almoço/palestra promovido pela Associação Brasileira das Indústrias de Máquinas e Equipamentos, regional Vale do Paraíba, em São José dos Campos. A platéia era composta principalmente de empresários e autoridades públicas e o conteúdo da palestra foi uma contundente e bem fundamentada crítica à política industrial do país e ao sistema financeiro, revelando as entranhas dos números e indicadores de crescimento econômico, tais como criação de empregos e crescimento do PIB.

Mostrou-se ali, com números sobre números - oficiais, que como diz o ditado, o diabo mora nos detalhes, ou seja, mesmo tendo havido crescimento da economia nos últimos anos, belos e vistosos números do PIB e de geração de empregos, eles se deram com a diminuição dos setores industriais que agregam valor aos seus produtos com tecnologia, conhecimento, inovação e educação e, por outro lado, com o aumento da produção e venda de bens primários, princpalmente, agrícolas e minerais.

Os números contam que na últimas duas décadas houve e continua em andamento uma rápida e profunda regressão a um modelo econômico quase colonial: exportamos celulose e importamos papel; exportamos minério de ferro e importamos aço; somos os maiores exportadores mundiais de café em grão, mas é a Alemanha, que não planta café, a maior exportadora mundial de café industrializado; produzimos soja com eficiência e produtividade recorde, mas quem vem instalar indústria para produzir óleo de soja e enviar para a China, são os próprios chineses.

Houve também uma crítica feroz ao sistema financeiro e à sua total prevalência nos órgãos controladores e formuladores da política econômica, nas instituições políticas nacionais e na grande mídia, para os quais a solução de todos os males, agora também para a ameaça de renascimento do dragão da inflação, sempre é subir, e subir de novo, e outra vez subir os juros já mais altos do mundo.

Não se tratava de público ou de palestrantes do meio sindical trabalhista, de ONGs, de movimentos populares. Eram na sua imensa maioria empresários, capitalistas até o último fio de cabelo, que ainda vivem de tentar criar condições para se produzir coisas, máquinas e equipamentos, que produzem outras coisas, que as pessoas compram e usam, enfim, riqueza material concreta.

Pode até ser que para o imediatiatismo financeiro e para a obtenção de vantagens e vitórias momentâneas para alguns o quadro se mostre cor-de-rosa, mas a continuar nessa mesma toada não se sabe onde iremos chegar.

Urbano Patto é Arquiteto Urbanista, Mestre em Gestão e Desenvolvimento Regional e membro do Conselho de Ética do Partido Popular Socialista - PPS - do Estado de São Paulo. Críticas e sugestões: urbanopatto@hotmail.com

FONTE: JORNAL DA CIDADE/ PINDAMONHANGABA

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