sábado, 16 de abril de 2011

Negócios, o negócio de Dilma:: Clóvis Rossi

Diplomacia de Dilma tem como foco a economia; questões políticas foram no máximo tangenciadas

A presidente Dilma Rousseff completou 100 dias de governo tendo já lidado diretamente com os líderes das duas maiores potências econômicas do planeta, Estados Unidos e China.

Dilma parece sinalizar a intenção de ter como eixo de sua diplomacia aquilo que muitos analistas chamam de G2, países que talvez não tenham peso suficiente para resolver todos os problemas do nosso planeta, mas sem os quais eles jamais serão resolvidos.

A característica central de ambos os contatos foram negócios. Com Barack Obama, a presidente, ainda que gentilmente, não deixou de criticar as barreiras que os Estados Unidos adotam e que prejudicam produtores brasileiros.

Ela mencionou igualmente a política monetária frouxa, que leva a uma inundação de dinheiro no planeta, que toma a direção de países como o Brasil.

A consequência inescapável é a apreciação da moeda e dificuldades para as exportações.

Na China, Dilma adotou idêntica atitude, também gentilmente. Fez ver aos chineses que o Brasil não pode continuar a ser apenas exportador de produtos primários. Obteve a promessa de que os chineses estimularão suas empresas a importar produtos de mais valor do Brasil.

A diferença entre os dois países é espantosa, nas contas do ministro Aloizio Mercadante (Ciência e Tecnologia): o preço médio da tonelada exportada pela China supera os US$ 3.000, ao passo que a do Brasil fica em magros US$ 163.

O problema com a queixa do Brasil é a de que o próprio empresariado admite que não dá para exportar mais manufaturas. Talvez por isso, o foco da viagem passou a ser atrair o "ouro de Pequim", a fantástica pilha de dinheiro que os chineses têm para aplicar no exterior.

Embora não tenha sido resultado direto da visita, já funcionou: a Foxconn anunciou espetaculares US$ 12 bilhões em seis anos para, entre outras coisas, construir uma "cidade inteligente" em local já escolhido mas ainda não anunciado. Serão 100 mil "habitantes" (trabalhadores), dos quais 20 mil engenheiros.

É o tipo de investimento que cria valor agregado como quer o governo -e, de resto, como é necessário.

Que o foco da diplomacia com Dilma é negócios, fica também evidente nos discursos que ela fez na China. Iguais praticamente aos que fazia ao lado de seu antecessor Luiz Inácio Lula da Silva em inúmeros seminários empresariais mundo afora. Lula até se orgulhava de ser um "mascate" vendendo o Brasil por aí.

Esse tipo de diplomacia -agora rebatizada para diplomacia de resultados- está longe de ser novidade. A atividade dos governantes é, em grande medida, servir de ponta de lança para negócios. O resultado, no entanto, será tanto melhor quanto maior for a capacidade empresarial de de fato realizar negócios.

O único senão do foco até aqui prioritário para Dilma é que acaba colocando no assento traseiro o empenho, muito forte nos dois últimos anos de Lula, de envolver-se ativamente em temas políticos (Irã, Oriente Médio, por exemplo).

Dilma, em todas as suas falas até agora no máximo tangenciou questões políticas, concentrando-se na economia e nos negócios. Suspeito que ganhará aplausos dos que criticaram o voluntarismo do governo anterior, mas, se você quer a minha opinião, acho que uma coisa não deveria excluir a outra.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

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