Por mais que
pesquisas não sirvam de baliza à análise de cenários pós-eleitorais, os números
sobre as intenções de voto na capital de São Paulo impressionam.
Hoje desenham um
horizonte pior que o mais pessimista dos cenários que poderia ter sido traçado
pelo PSDB quando o partido apelou a José Serra para que fosse candidato.
Ele não queria,
preferia se guardar para 2014, mas cedeu aos argumentos de que a candidatura
era o único jeito de impedir o PT de voltar à Prefeitura e, a partir daí,
quebrar a hegemonia política dos tucanos no Estado mais importante do País.
O que era dado como
uma vitória quase certa - até no campo adversário - vai se configurando como
uma possibilidade grande de derrota.
Caso se confirme, o
PSDB entregará ao PT a joia da coroa dessa eleição. Objetivamente, porém, não
anulará os problemas que o partido da Presidência enfrenta desde que Lula
deixou o Palácio do Planalto.
Não fará desaparecer
as fissuras que levaram a derrotas importantes em colégios eleitorais
relevantes como Pernambuco e Minas Gerais, muito menos livrará o PT de seus
problemas com a lei.
Mas, se Fernando
Haddad ganhar, o PT terá nas mãos um aparelho (mais um) e tanto, além de um
êxito político espetacular do qual se vangloriar. Ao menos até a posse do novo
prefeito quando, então, as coisas voltam ao seu curso normal.
Nessa hora é que
serão elas.
O PT não pode se fiar
só em Lula nem imaginar que possa seguir ignorando o efeito deletério das ações
agora condenadas pelo Supremo Tribunal Federal.
Uma vitória em São
Paulo ou onde quer que seja não apaga os fatos, não anula sentenças judiciais
nem aplaca os naturais apetites dos partidos hoje parceiros e que estão
querendo ver andar a fila do poder.
Por seu lado o PSDB
não poderá fugirde refletir sobre a identificação social de seus quadros e a
eficácia de seus procedimentos.
A rejeição de mais de
50% a José Serra não é um dado irrelevante e talvez não possa ser atribuída
exclusivamente a razões de temperamento do candidato.
Tem política sendo
mal feita nessa história. A autofagia grassa, o atabalhoamento é evidente, o
rumo é inexistente, a debilidade de lideranças chega a constranger e projeto
de País, se existe no partido os tucanos o têm escondido bem.
Há um pretendente à
eleição presidencial, o senador Aécio Neves. Bem como no PSB há a ideia de
emplacar o governador Eduardo Campos como a grande novidade, há sempre o PMDB
movimentando-se para cá e para lá, há a candidatura de Dilma Rousseff à
reeleição.
Há em todo lado
planos de conquista da Presidência. Muita gente querendo chegar lá, mas até
agora não há na praça nada de inovador e consistente sendo dito em termos de
projeto de País.
Não é absurdo supor
que provavelmente resida aí a razão de ausência tão acentuada do eleitor
nessas eleições, conforme informam os números de abstenções, votos nulos e
brancos na rodada de 7 de outubro.
Passadas as
comemorações e as lamentações com os resultados de domingo que vem, os
partidos estarão cada qual com suas peculiaridades, diante do mesmo desafio de
falar como adultos à sociedade.
Cerca Lourenço. A
cúpula do PMDB finge que acredita na desculpa do governador Sérgio Cabral de
que o prefeito Eduardo Paes falou sem pensar quando lançou seu nome para vice
na chapa pela reeleição de Dilma Rousseff em 2014.
Na realidade, a
direção pemedebista acha que Paes falou de caso pensado. Tudo devidamente
combinado com o governador e seu grupo hoje preponderante na política do Rio.
Embora não arrisque
um palpite sobre o verdadeiro objetivo do "lançamento" fica a impressão:
Cabral está costeando o alambrado.
Como sabe o leitor
atento, era a expressão usada por Leonel Brizola quando identificava no aliado
forte vontade de mudar de lado. No caso, de partido.
Fonte: O Estado de S.
Paulo
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