Surpreendo-me hoje com uma notícia no jornal regional O Vale, que a administração que está entrando na Prefeitura de São José dos Campos pretende rever, ou até mesmo encerrar, os programas voltados ao empreendedorismo implantados na rede municipal de ensino pela administração que se encerrou.
Uma das explicações é que o enfoque dos projetos será alterado para uma visão mais "social" do empreendedorismo. O Secretário da Educação diz: "Daremos preferência a ações que levem à inclusão social e independência dos alunos do que uma preparação para o mercado ou que estimule a competição exacerbada entre os estudantes."
Balela. Estão tratando é de forçar uma ideologização de uma questão para aplicar-lhe marcas de governo e tentar submetê-la a uma mística ritual de enquadramento entre direita e esquerda, deslocada da realidade atual , simplificada em moldes de manuais e cartilhas e absolutamente insuficientes para o debate sério sobre a Educação necessária.
Por seu lado, os "mercadistas" adoram também debater nesse torneio de ideologias para afirmar sua crenças, também místicas, na mão invisível do mercado e no espírito animal que deve movê-lo.
Quais seriam as distinções objetivas entre o empreendedorismo "social" e o "de mercado". Organizar uma cooperativa de catadores é "social"? Montar uma franquia do McDonalds é "de mercado"?
O problema é que tudo tende a ser transformado em uma disputa, essa sim, exacerbada, seguindo a mais pura mentalidade competitiva e sem princípios, pela ocupação do "mercado" - nesse caso o eleitoral - pela nova marca, destruindo a marca do adversário e este, por sua vez, fazendo de tudo pelo insucesso na nova marca.
Nesse embate o que menos importam são as idéias objetivas, o conteúdo e os resultados que serão alcançados para aqueles que interessam: os estudantes e a sociedade.
Pobre debate se avista em 2014 se ao iniciarmos 2013 começamos assim.
Urbano Patto é Arquiteto-Urbanista, Mestre em Gestão e Desenvolvimento Regional, Secretário do Partido Popular Socialista - PPS - de Taubaté e membro Conselho Fiscal do PPS do Estado de São Paulo. Comentários, sugestões e críticas para urbanopatto@hotmail.com
Um comentário:
Concordo que a política que eu chamo de "profissional" atrelada à gestões que se alternam tem como prioridade denegrir os feitos de gestões anteriores, algumas vezes até desfazendo programas inteiros para depois relançá-los com os mesmos objetivos e outros nomes, chancelando-os como política do partido X ou Z.
Não conheço o perfil do programa de S. José dos Campos que você menciona. Entretano, é gritante o tanto que o pêndulo da banlança vem pendendo para o endeusamento do "Mercado" como meio e fim de todas as coisas. Posto que o tal programa é, ou deveria ser, de educação, pergunto-me onde foram enterradas as razões maiores da Educação, aquela com letra maiúscula, de busca do conhecimento e construção do ser consciente de si e de seu mundo. Parece-me que a consciência de nosso mundo atual engloba, deveras, saber todas as manhãs do Mercado. A meu ver, educando o jovem para suas armadilhas e manipulações, para as alternativas de desenvolvimento local ambientalmente e socialmente responsável. Não sei em qual das tendências "da moda" desse mercado isso cabe. Talvez ou certamente nem caiba. Negar programas pela disputa político-partidária é uma de nossas maiores vergonhas e freio inegável de benefícios socias reais pela falta de continuidade entre governos. Mas convém averiguar as manipulações, especialmente em mentes jovens, incutindo a visão única do individualimo mercantil, na base do faça seu futuro e a sociedade que se dane. Essa solução neoliberal afasta o cidadão em formação das questões dos direitos e condições de trabalho, além de inflar o tal "mercado" de pequenos empreendimentos que ele não tem como assimilar, resultando em relações precárias de empregos informais, dentre tantas outras questões a se pensar.
À primeira olhada concordo com sua reflexão, mas acredito mesmo que o buraco seja muito mais embaixo, e convém desenterrá-lo.
Abços e parabéns por manter este espaço de ideias.
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