Isabel Filgueiras - Folha de S. Paulo
FORTALEZA - Em discurso realizado durante manifestação em Fortaleza neste sábado (2), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez duras críticas ao atual vice-presidente Michel Temer (PMDB) e disse que voltará a ser ministro da Casa Civil do governo Dilma "se tudo der certo".
"O Temer é um constitucionalista, ele é professor de direito, ele sabe que o que estão fazendo é golpe. E isso, ele sabe, que vão cobrar é pra o filho dele, para o neto dele amanhã, porque a forma mais vergonhosa de chegar ao poder é tentar imputar o mandato, dar o golpe numa mulher da qualidade e seriedade da presidenta Dilma Rousseff", afirmou.
Ele pediu que os deputados da Comissão Especial de Impeachment que não votem contra a presidente Dilma. "Eu tava pensando que eu ia descansar minha vida. Mas não vou permitir que haja golpe e queria fazer, nesta praça, um apelo aos deputados federais, que estão na comissão: esta não é a melhor maneira de chegar ao poder."
A posse de Lula no ministério foi suspensa pelo ministro Gilmar Mendes no último dia 18.
"Na próxima quinta-feira, se tudo der certo, se a Corte Suprema aceitar, eu estarei assumindo o ministério. "Eu volto para ajudar a companheira Dilma, ajudar de verdade, andar de mão dada com ela e com vocês", disse.
Lula afirmou que o país vive um "clima de ódio" e lembrou do caso da pediatro do Rio Grande do Sul que parou de atender uma criança porque a mãe é petista.
No pronunciamento, o ex-presidente voltou a se defender das acusações de que é dono de um tríplex no Guarujá e de um sítio em Atibaia."Faz dois anos que eu estou sendo vítima dos maiores ataques. Eles já criaram um apartamento para mim que não é meu. Eu quero convidar vocês, no dia que for meu, pra ir lá. Eles já inventaram uma chácara que não é minha e quando for minha vocês vão visitar minha chácara." Lula disse ainda esperar que a Polícia Federal e o Ministério Público tenham a "grandeza" de lhe pedir desculpas.
Lula também criticou o presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), Paulo Skaf, que tem feito campanha, inclusive com anúncios em jornais e revistas, a favor do impeachment. "Ele vai ter de explicar de onde vem o dinheiro para fazer essa campanha", disse.
Em um discurso rápido, sob chuva intensa, ele não mencionou a Operação Lava Jato ou as novas investigações que ligam o petrolão ao mensalão e ao caso do prefeito Celso Daniel, assassinado em 2002.
O petista reclamou do que chamou de "clima de ódio" no país. "Tenho 50 anos de política e nunca vi um clima de ódio estabelecido como vejo agora. Essa gente que vai pra rua, tentando usar verde e amarelo para dizer que são brasileiros, precisava ter trabalhado o tanto que nós trabalhamos", disse.
"Vocês viram que no Rio Grande do Sul, uma médica fascista não quis atender uma criança porque a mãe era petista? Nós estamos chegando a esse ponto e esse ponto é o ódio disseminado por eles", acrescentou.
O ex-presidente reagiu ainda a outdoors que foram espalhados pela cidade de Fortaleza contra sua presença, como o do Sindicato dos Médicos do Estado do Ceará (Simec). "Eu soube que ontem, nessa cidade, encheram de outdoor contra o Lula. Eu não fico com ódio. Aos 70 anos, estou pensando que o homem (Deus) quer me chamar. Então não quero brigar. O dinheiro que essas pessoas gastaram com outdoor para falar mal de mim, deviam ter vergonha e fazer outdoor pelo que fiz pelo Nordeste e pelo Ceará", disse.
Lula encerrou seu discurso criticando o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). "Temer, Cunha, não vai ter golpe."
De acordo com a Secretaria de Segurança e Desenvolvimento Social do Ceará, entre 10 mil e 12 mil pessoas estiveram no "Ato por mais democracia", na praça do Ferreira. Já para a organização do evento, coordenado pela Frente Brasil Popular, foram 50 mil pessoas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário