- Folha de S. Paulo
Um dia, em 1641, o Rio botou o bloco na rua. E deu no que deu
Está no artigo "Direito à folia", na seção "Tendências / Debates" de domingo (16), assinado por Juca Ferreira e Guilherme Varella. Até 2013, "um quadro de obstrução operacional dos blocos pela gestão municipal" impedia que São Paulo tivesse Carnaval de rua. Mas, naquele ano, um "Manifesto Carnavalista", lançado pelos representantes dos blocos e reivindicando sua "descriminalização", encontrou eco na administração do prefeito Fernando Haddad (PT), cujo secretário da Cultura era Juca Ferreira, e este entrou em ação.
"Foi criada uma arquitetura jurídico-institucional complexa, com desenho especialmente pensado para o período de excepcionalidade do Carnaval", escreveram. "O arranjo estabeleceu instrumentos regulatórios; distribuição de competências entre as pastas; coordenação dos agentes; otimização dos serviços públicos; metodologia de organização territorial; e regras para a exploração comercial da festa".
Ainda segundo os autores, houve uma "construção colaborativa dialógica" entre os carnavalescos e a sociedade: "A política pública contribuiu para o desrepresamento da potência dos blocos". Com isso, "São Paulo assimilou e assumiu seu ethos momesco" e, hoje, sete anos depois, confirma "aquilo que prenunciávamos em 2013: não apenas existe Carnaval de rua em São Paulo como ele é o maior do Brasil".
O Rio, coitado, nunca teve essa arquitetura jurídico-institucional. Nos nossos 379 anos de Carnaval —desde o de 1641, quando os primeiros fantasiados saíram à rua cantando—, tivemos de improvisar. A partir de 1848, surgiram, pela ordem, os blocos, os bailes de máscaras, os carros alegóricos, a decoração de rua, os cordões, os ranchos, o maxixe, o corso, as batalhas de confete, os banhos de mar à fantasia, as marchinhas, os sambas, os clóvis, as escolas de samba, os desfiles. Enfim, tudo.
E só porque, um dia, botamos o bloco na rua. Deu no que deu.
*Ruy Castro, jornalista e escritor, autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues.
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