As
suspeitas de plágio acadêmico não devem abalar a caminhada de Kassio Nunes rumo
ao Supremo. O desembargador que copiava está a um passo de garantir a cadeira
na Corte. Deverá ocupá-la por quase 27 anos, até maio de 2047.
Ontem
o senador Eduardo Braga apresentou seu relatório à Comissão de Constituição e
Justiça. O líder do MDB descreveu Kassio como um “exemplo de garra e
perseverança”. Para ele, os indícios de fraude no mestrado e no doutorado não
desabonam a reputação do escolhido. “Mirar abstratamente o curriculum do
indicado significa retirar a dimensão humana dos conhecimentos que ele
adquiriu”, filosofou.
A
Constituição afirma que os aspirantes a ministro devem ter “notório saber
jurídico”. Pelo relatório de Braga, Kassio não precisa se preocupar. A
exigência, segundo ele, não estaria ligada a “títulos e diplomas”. Bastaria
carregar “sementes de conhecimento, que germinam em terreno fértil de humildade
intelectual e devoção a causas justas”.
Para
reforçar seus argumentos, o senador recorreu a Ruy Barbosa. “Vulgar é o ler,
raro o refletir. O saber não está na ciência alheia, que se absorve, mas
principalmente nas ideias próprias, que se geram dos conhecimentos absorvidos”,
pontificou. Morto há 97 anos, o jurista baiano não pôde opinar sobre a citação.
Braga
foi ministro de Dilma Rousseff, mas virou bolsonarista desde criancinha. Na
semana passada, ele convidou o capitão a se filiar ao MDB. Seria uma mera
formalidade. A legenda já mergulhou de cabeça no governo, com as bênçãos do
ex-presidente Michel Temer e do senador Renan Calheiros.
Nos
últimos dias, Kassio mostrou que também poderia aderir ao partido. Como um bom
emedebista, ele sabe dizer o que o interlocutor quer ouvir. Em jantares e
conversas ao pé do ouvido, o desembargador se solidarizou com senadores na mira
da Justiça. Ganhou apoios em todo o espectro político, do DEM ao PT.
Com o aval da oposição, a sabatina da próxima quarta-feira tende a ser indolor. O caminho está livre para o ministro tubaína.
Nenhum comentário:
Postar um comentário