O
mundo todo enfrentou a mesma pandemia, mas não a mesma tragédia
A
retrospectiva de 2020 pode ser escrita com as aspas expelidas de uma boca
hedionda. O poder do vírus estava "superdimensionado", sem motivo
para "histeria', "comoção" ou "pânico". Tudo poderia
ser resolvido com um "dia de jejum" do povo brasileiro. Se fosse
contaminado, por seu "histórico de atleta", o profeta da escuridão
teria apenas um "resfriadinho" e seria curado por uma poção mágica, a
cloroquina.
O vírus produziu um oceano de lágrimas, e o cronista do abismo arremessou palavras como pedras sobre a dor dos brasileiros: "Não sou coveiro", "E daí?", "Eu sou Messias, mas não faço milagre". Incentivou aglomerações e a contaminação porque o vírus é como uma "chuva", "vai atingir você" e "todos nós iremos morrer um dia". "Tem que deixar de ser um país de maricas".
Sob
seu comando, o Ministério da Saúde foi incapaz de planejar ações preventivas ou
campanhas educativas e alertar para a gravidade da doença. Desprezou o uso de
máscara, não investiu na testagem em massa, fracassou na logística (quase 7
milhões de testes perderam a validade), sabotou os imensos esforços de
cientistas, médicos e todos os profissionais de saúde, professores, mídia e
autoridades locais para promover quarentenas que poderiam reduzir as infecções.
Não
antecipou a compra de vacinas e fez vaticínios estapafúrdios sobre seus efeitos
colaterais. Arrotou tanta ignorância que quase um quarto da população não quer
se vacinar. Vamos fechar o ano perto dos 200 mil mortos, podendo ser até 230
mil, considerando a subnotificação.
O
mundo todo enfrentou a mesma pandemia, mas não a mesma tragédia. A diferença
está em como os governos lidaram com os instrumentos disponíveis para conter o
vírus. Mas o semeador do caos e da desesperança não dá "bola" e nos
arrasta para os confins da escala civilizatória. Nada indica que 2021 será
diferente. Peço licença ao escritor Marcelo Rubens Paiva para receber o novo
ano com a expressão pungente do título de um livro seu: "Feliz Ano
Velho".
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