Coisas
de quem usa farda
Em um governo que emprega mais de 3 mil militares em funções tradicionalmente reservadas a civis e que alçou ao comando do Ministério da Saúde um general que não sabia o que era o SUS (Sistema Único de Saúde), é natural o uso de expressões que remetem a atos de guerra para anunciar suas intenções.
O
general Eduardo Pazuello havia dito que a vacinação em massa contra o
coronavírus teria início no Dia D, que lembra a data do desembarque dos países
aliados nas costas da Normandia durante a Segunda Guerra Mundial para libertar
a França ocupada pelo Exército alemão do ditador nazista Adolph Hitler.
Agora, Pazuello diz que haverá uma Operação Ponte-Aérea para distribuição da vacina aos Estados. Como a Alemanha, ao fim da guerra, fora dividida em dois Estados – um administrado pelos aliados ocidentais e outro pelos soviéticos -, Berlim, a capital, ficou dividida em duas partes – a oriental e a ocidental.
No
final de junho de 1948, Josef Stalin, chefe do Estado soviético, ordenou o bloqueio
de rodovias e ferrovias e do transporte fluvial para Berlim Ocidental. A
resposta dos aliados ganhou o nome de Operação Vittles. Foi a maior operação
área de ajuda humanitária jamais vista até então. Ela salvou os berlinenses da
fome.
Faltava
Pazuello dizer quando seria o Dia D do início da vacinação – não falta mais. Na
próxima terça-feira, em um evento cercado de muita fanfarra no Palácio do
Planalto e transmitido ao vivo pela televisão, o país assistirá à imunização do
primeiro brasileiro. No dia seguinte, a Operação Ponte-Aérea será deflagrada.
Campanhas
de vacinação no Brasil sempre começam ao mesmo tempo em todos os lugares, mas
desta vez não será assim. O governo federal despertou tarde para o fato de que
a vacina é a salvação. E o presidente Jair Bolsonaro, favorável à morte de quem
tiver de morrer, sabotou a vacinação o quanto pôde.
Há
outra razão para que a Operação Ponte-Aérea por enquanto só contemple as
capitais: não há vacina suficiente. O Estado de São Paulo tem 8 milhões de
doses estocadas, por ora, sem licença para aplicá-las. E o governo federal só
irá dispor de 2 milhões de doses buscadas às pressas na Índia e que chegarão
neste sábado.
De
resto, apenas neste domingo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa)
reunirá sua diretoria para decidir se libera ou não o uso das duas vacinas – a
Oxford/Astra Zeneca importada da Índia, e a CoronaVac, a vacina chinesa que
aqui já começou a ser produzida pelo Instituto Butantan, em São Paulo.
Quanto a seringas e agulhas sem as quais não haverá vacinação, o Ministério da Saúde informou ao Supremo Tribunal Federal que caberá a Estados e municípios providenciá-las. Não será surpresa para este blog se 2021 terminar sem que termine a vacinação de todos os brasileiros que queiram ser imunizados.
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