Folha de S. Paulo
Difícil encontrar uma pessoa negra que não
tenha sido vigiada em uma loja
Difícil encontrar uma pessoa negra que não
tenha sido vigiada ou seguida dentro de uma loja, de um shopping ou de um
supermercado no país. Isso vale, inclusive, para as crianças. A sensação de
mal-estar por ser observada enquanto caminha pelos corredores é coisa que quem
é mais atenta percebe desde cedo.
Por incrível que pareça, para muita gente
no Brasil a negritude é motivo de suspeição. Não fosse essa uma verdade, Luiz
Carlos da Silva, um homem negro, não teria tido de se despir, ficando
apenas de cuecas diante do público, para provar que não havia furtado nada do
supermercado Assaí, em Limeira, este mês.
Nem sei o que é mais assustador: se o motivo da abordagem dos seguranças —transitar pelos corredores e sair sem comprar nada; ou o da reação do cliente— despir-se na entrada do mercado por medo de ser levado para alguma peça escondida onde possíveis agressões não poderiam ser registradas por câmeras ou percebidas por terceiros.
A situação desrespeitosa e humilhante me
fez recordar de um texto que li tempos atrás sobre a banalização da violência
contra pessoas negras, fato que torna perigosas até atividades corriqueiras do
dia a dia. O conteúdo alertava para a necessidade de adotar medidas preventivas
na tentativa de evitar problemas durante a compra de mantimentos.
Entre as recomendações, constavam coisas
como andar no meio dos corredores —de preferência sem mochila, sacola ou bolsa
grande; pegar uma cestinha ou um carrinho mesmo que pretenda adquirir um único
item; carregar as compras de modo bem visível; não colocar as mãos nos bolsos;
evitar movimentos bruscos.
Pode parecer exagerado, mas infelizmente sobram exemplos a reforçar a validade dos conselhos. Nem o trágico espancamento até a morte de Beto Freitas, no Carrefour em Porto Alegre, serviu para que seguranças de estabelecimentos comerciais parassem de agir com truculência, brutalidade e desrespeito em razão da cor da maioria dos cidadãos brasileiros.
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