Revista Veja
A incógnita é saber o que poderá inverter as tendências
O nó da
conjuntura está na fraqueza das forças. Nem a oposição a Jair Bolsonaro tem até
agora músculos para remover o presidente ou tirá-lo do segundo turno, nem ele
parece reunir reservas no momento para transmitir a seus potenciais apoiadores
a segurança de que vai derrotar Luiz Inácio Lula da Silva em 2022. Daí o
cenário ser, como descreve a literatura política, um “empate catastrófico”,
equilíbrio crônico de forças (ou fraquezas) que produz degradação progressiva.
Uma evidência pode ser vista nas reformas eleitoral e tributária.
Na teoria, o palco para o desempate será a eleição. Bolsonaro luta para manter coeso o núcleo ideológico da sua base, com as bandeiras já bem conhecidas. É seu passaporte para o segundo turno. Mas o movimento principal é buscar recursos orçamentários que turbinem programas sociais. Nem que tenha de aumentar impostos. O candidato Jair Bolsonaro era crítico de aumentar impostos e de as pessoas dependerem de governos. Mas na hora do aperto cresce a tentação de engatar o vagão das ideias na locomotiva das necessidades.
No ano passado, o pagamento do auxílio emergencial de 600 reais coincidiu com uma melhora na avaliação do presidente. Agora, a retomada daquele suporte financeiro, mas com menos da metade do valor e para menos gente, não parece estar ajudando a atenuar a dificuldade política. É possível que o novo Bolsa Família mude isso, mas será preciso esperar para ver. Até porque a inflação anda turbinada, especialmente nas compras do povão.
E inflação
incomodando em ano eleitoral nunca é boa notícia para quem está no poder e quer
continuar.
“As pessoas
costumam preferir os resolvedores de problemas aos que têm mais vocação para
criá-los”
Se o esforço na
área social funcionar, será a deixa para alguma distensão na política. Se o
atalho for insuficiente, é provável mais turbulência lá na frente. Está
bastante enganado quem acha que a derrota da PEC do voto impresso/auditável
encerra a disputa sobre a urna eletrônica.
Uma tendência da
conjuntura é o azeitado rolo compressor governista na Câmara acabar
transferindo as fagulhas da crise para o Senado, onde a articulação palaciana é
bem menos consistente, como mostra a Comissão Parlamentar de Inquérito da
Covid-19.
Em meio à
agitação desencadeada com a mobilização pelo voto impresso, o debate sobre
novos programas sociais e os frequentes arreganhos do Executivo são temas que
ajudam a reduzir o impacto comunicacional da CPI, cuja hora da verdade está
chegando. Aguarda-se o relatório para ver se a comissão tem mesmo garrafas para
entregar. Ou se vai fazer barulho mas alcançar apenas bagrinhos. Ou
ex-bagrinhos.
A incógnita-chave
do momento é o que poderia mudar o ânimo popular o suficiente para inverter a
tendência das pesquisas. No mundo objetivo, o presidente e o governo têm os
instrumentos para tomar providências financeiras que caiam no gosto da massa.
No subjetivo, o Planalto ainda tateia por onde resolver a encrenca que criou
para si mesmo na pandemia. Pois em épocas de grandes ameaças e riscos, as
pessoas costumam preferir os resolvedores de problemas aos que têm mais vocação
para criá-los.
Publicado em VEJA de 18 de agosto de 2021, edição nº 2751
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