Este ano a Mangueira e a Portela não irão pra avenida, não haverá abadás e blocos de Axé e o Galo da Madrugada não varrerá as ruas de Recife, graças à pandemia que nos assola há dois anos. Será um momento de descanso e reflexão. É justo, pois, tentar imaginar o que nos reserva 2022. E certamente, não haverá monotonia pelos sinais que temos até aqui.
Em primeiro lugar, nuvens carregadas
ameaçam o cenário internacional. O conflito entre Rússia e Ucrânia poderá ter
desdobramentos imprevisíveis. Os EUA e a União Europeia resistem e ameaçam com
retaliações crescentes. A China se
alinhou a Rússia e paga pra ver. Obviamente, a tensão crescente terá
repercussões no comércio internacional e no fluxo global de investimentos. O
Brasil tem na China, EUA e União Europeia seus três maiores parceiros
comerciais e ao mesmo tempo compõe o BRICRS, ao lado da Rússia e da China.
Nossa atual política externa tem cometido erros primários e todo cuidado é pouco.
Por outro lado, tudo indica que a pandemia
chegará ao fim com o avanço da imunização e a COVID-19 se incorporará à rotina
dos desafios sanitários.
No plano econômico é de se prever que a
inflação cederá a médio prazo, mas a taxa de juros e o desemprego continuarão
altos e o crescimento raquítico. Os investimentos devem entrar em compasso de
espera, aguardando os desdobramentos políticos das eleições de outubro.
E é aí que mora o perigo. As eleições
trazem, como tudo na vida, ameaças e oportunidades. O Brasil necessita
urgentemente de estabilidade política e econômica e de um plano de voo de longo
prazo, sob pena de continuar patinando no pântano das crises permanentes.
Enquanto não superarmos a instabilidade não cuidaremos da verdadeira agenda do
século XXI e de preparar o futuro.
Nos últimos dias, a temperatura política
subiu, o que é até certo ponto natural a sete meses das eleições presidenciais,
mas que pode sair do controle. Os conflitos entre o Palácio do Planalto e o
Poder Judiciário foram reciclados. Bolsonaro subiu o tom em palestra organizada
pelo BTG, tentando, pela radicalização do discurso, provar que merece mais
quatro anos. Lula tenta tranquilizar a sociedade, com movimentos claros em
direção ao centro político, revelando estar consciente da gravidade do quadro e
que fará um governo longe de retaliações e aventuras à esquerda. Paralelamente,
o centro democrático tenta, a duras penas, localizar uma candidatura
competitiva que vocalize uma agenda contemporânea, comprometida com a
democracia, o desenvolvimento sustentável e o combate às desigualdades.
2022 promete. O importante é que não somos
todos atores passivos neste drama. O futuro nascerá das nossas mãos e de nossas
escolhas.
*Marcus Pestana, Presidente do Conselho
Curador ITV – Instituto Teotônio Vilela (PSDB)
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