segunda-feira, 6 de junho de 2022

Irapuã Santana: País precisa de propostas em vez de radicalização

O Globo

Na primeira coluna do ano, abordei o clima em que está inserida nossa sociedade, vislumbrando um aumento da polarização, da cultura de cancelamento, do comportamento tribal das bolhas e da interdição ao debate de ideias.

Infelizmente, essas previsões estão se confirmando ao longo destes cinco meses desde a publicação do texto. No entanto o problema chegou a um nível que não imaginaria. Em 2018, ao não votar no candidato da esquerda, o eleitor se tornava automaticamente fascista. No outro extremo do espectro político, a mesma coisa aconteceu, sendo tachado de comunista aquele que escolheu não votar no atual presidente.

Hoje, a classificação e a exigência chegaram mais cedo num tom bem acima. Quem não se posicionar para um lado ou para o outro no primeiro turno, dentro da perspectiva de seus respectivos grupos, atenta contra a democracia. E não para por aí: é necessário passar um cheque em branco aos candidatos, sem externar críticas e divergências, tendo em vista que tal comportamento daria força ao adversário, visto como inimigo mortal.

Em nome da democracia, o eleitor é obrigado a “escolher” o candidato X, declarar seu voto meses antes do primeiro turno, submeter-se a todo discurso por ele levado a público e calar-se diante de eventuais e pontuais discordâncias que possam vir a surgir dentro de um processo eleitoral que, pelo menos formalmente, ainda nem começou.

A despeito deste momento preocupante, periodicamente, aqui neste espaço, tento aproveitar para ventilar ideias — boas ou ruins — e contribuir minimamente para desobstruir o debate. Por isso vale muito a pena abordar duas iniciativas da sociedade civil que reúnem propostas de políticas públicas para tratar os problemas reais de quem não está nas redes sociais, mas sofre no mundo real, no Brasil profundo que vive com inflação, fome, desemprego, poluição, analfabetismo funcional e morte.

Em fevereiro deste ano, foi lançada uma coletânea de artigos chamada “Reconstrução: o Brasil nos anos 20”. Seu objetivo está bem claro já no título da obra. Como descrito na apresentação, “trata-se de um convite à reflexão nas diferentes áreas: política econômica, meio ambiente, direitos humanos, sistema de governo, questão racial, educação básica, ensino superior e técnico, programas sociais, política tributária, papel do Estado, debate federativo, SUS, habitação, o desenvolvimento econômico e seu financiamento. Há espaço para a esquerda, para o centro e para a direita”.

A outra iniciativa de destaque — mais recente, com lançamento na última quinta-feira—, é o Caderno de Políticas Públicas 2022, elaborado pela Associação Livres. Segundo a organização, para que possamos enfrentar uma das mais graves crises sociais que já vivemos foi construído um trabalho com diretrizes estaduais e nacionais, foco em ampliar a autonomia e a liberdade dos brasileiros, sem perder de vista o pragmatismo e a sensibilidade social.

Portanto, apesar do cenário caótico, há muitas propostas sendo desenhadas na esperança de ajudar o país. Não estamos sós e não podemos desistir!

 

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