domingo, 7 de agosto de 2022

Fernando Carvalho* - O Golpe que Bolsonaro vai dar

Que Bolsonaro vai dar um golpe é uma questão líquida e certa. Ele já planeja esse golpe desde o século passado. Em 1999 durante entrevista à TV Band respondendo à pergunta do repórter J. Marquesini se ele fecharia o Congresso Nacional caso fosse eleito presidente da República. Bolsonaro respondeu na lata: "Daria o golpe no mesmo dia" (em que tomasse posse). Tico e Teco, os neurônios de Bolsonaro não avisaram a ele que o presidente da República é o chefe de apenas um dos três poderes da República e que um golpe de Estado é um pouco mais complicado.  Como estamos falando em golpe. A própria eleição de Bolsonaro já foi um golpe de Estado. Ou alguém concebe Joe Biden no dia em que tomou posse agradecer a um general o fato de ter sido eleito?  A primeira coisa que Bolsonaro fez ao sentar o traseiro na cadeira presidencial foi despachar os médicos cubanos de volta para casa com isso prejudicando os brasileiros pobres que usam o SUS. Com isso reforçou o espantalho do comunismo, tão caro ao projeto de seu golpe.

Todos sabem que o modelo de Bolsonaro é Donald Trump. Que ao perder as eleições tentou o assalto ao Capitólio. Provavelmente Tico e Teco os dois neurônios de Bolsonaro conhecem a célebre frase de Karl Marx "A história quando se repete é como tragédia ou como farsa".  Mas Bolsonaro prepara a Operação Capitólio Caipira. Uma peça importante do golpe é lançar desconfiança dos bolsonaristas nas urnas eletrônicas. Me impressiona ver gente relativamente inteligente acreditar nisso. Em virtude da polêmica sobre o voto impresso, a Câmara deu um basta rejeitando uma volta ao passado. Bolsonaro chegou a dizer que o assunto estava encerrado. Mas ele voltou à carga e desta vez procurando envolver as FFAA. O TSE Tribunal Superior Eleitoral já fez o que se espera numa democracia e democratizou a fiscalização às urnas eletrônicas. Numa reunião a que foram convidados partidos políticos, OAB, MPF, CGU, a Polícia Federal, o Senado e até as Forças Armadas para expor os códigos fonte e o sistema de votação e totalização. Diante da insistência de Bolsonaro nesse nhem nhem nhem o ministro do Supremo Edson Fachin se irritou e mandou um duro recado aos militares "Eleições é assunto para as Forças Desarmadas".

A tentativa de golpe de Donald Trump fracassou. Mas Bolsonaro tem assessores melhores que os de Trump. A principal razão para o fracasso de Trump foi a falta de apoio militar. Já li um analista daqui deste blog dizendo que Bolsonaro já conta com o apoio do Exército. Certamente a famosa farra dos marechais, evento que contemplou centenas de oficiais superiores do Exército, Marinha e Aeronáutica com pensões vitalícias transmissíveis a seus descendentes (até o coronel torturador Embaçado Ustra foi lembrado e deixou pensão para suas filhas. Cada uma recebe mensalmente R$15.307,90).  Desse modo, a elite de nossas FFAA foram subornadas com um ano de antecedência. Imaginemos a cabeça de um desses oficiais: "Bolsonaro deu um golpe em nosso nome. Agora vou eu retirá-lo do poder, devolver a Lula...  e minha pensão de marechal"? Acho que Lula e Alckmin deveriam avisar a esses marechais de araque que eles apenas deixarão de receber. Mas o que receberam não terá que ser devolvido. Tem mais, quantos militares Bolsonaro colocou em cargos civis no Governo? Só de cargos DAS Direção e Assessoria Superior e FCPE Função Comissionada do Poder Executivo foram 742 cargos ao todo. Cargos de natureza especial considerados de primeiro e segundo escalões, a presença de militares passou de seis para catorze.Trabalho do TCU Tribunal de Contas da União, indicou o crescimento significativo do número de militares em cargos civis no governo Bolsonaro. Segundo o TCU são mais de 6.000 em atuação no governo um movimento de militarização do serviço público. Segundo a Folha de S Paulo, Bolsonaro multiplicou por dez o número de militares no comando de empresas estatais.  Ministros do STF já criticaram essa excessiva militarização do Governo Federal.

Importante papel para o projeto do golpe cabe aos caminhoneiros na logística da insurreição bolsonarista. Foram os caminhoneiros que ocuparam as vias de acesso à Esplanada dos Ministérios durante a presepada do 7 de setembro do ano passado. Desnecessário dizer que os mil reais da PEC Kamikaze destinados aos caminhoneiros é para subornar a categoria.

No âmbito da PM Polícia Militar, segundo o cantor Lobão, Olavo de Carvalho ofereceu cursos gratuitos de "filosofia" para todos os policiais militares do país. Aulas de conteúdo anticomunista. Olavo foi o guru da famiglia Bolsonaro. No Rio de Janeiro a família Bolsonaro é o ponto alto de uma linha de evolução histórica que teve início com os Esquadrões da Morte e culminou com o Escritório do Crime. Isso está no livro: A República das Milícias de Bruno Paes Manso.

Para Ruy Castro Bolsonaro não tem nada a perder e a ideia que resta é produzir um fato novo que o impeça de concorrer às eleições. Algo como um repeteco da operação facada. Já circulou uma idéia de que Adélio Bispo seria acionado para aparecer de novo dizendo que o atentado à faca foi encomendado pelo PT. Outro fato novo cogitado seria um apagão provocado na hora da contagem dos votos. E quando esse fato estiver sendo consumado as ruas serão tomadas pelos bolsonaristas das esquinas. Em linhas gerais essa será a Operação Capitólio Caipira. Concluo dizendo que quem avisa amigo é.

*Fernando Carvalho é historiador, formado pela Universidade Federal Fluminense (UFF), autor de “Livro Negro do Açúcar

Um comentário:

ADEMAR AMANCIO disse...

Bolsonaro e sua gente são capazes de tudo.