Folha de S. Paulo
A religião é uma assombração que não
conseguiremos exorcizar
Na batalha pelo voto
evangélico, bem, mal, anjos e demônios têm
sido invocados. Religião e
política compõem um coquetel complexo, por vezes explosivo. Ainda assim, são,
na democracia, indissociáveis um do outro. E é uma relação bem assimétrica.
No cômputo geral, a democracia faz mais bem do que mal às religiões, especialmente àquelas que são minoritárias. É só quando a liberdade de culto, uma das marcas registradas do Estado democrático, está assegurada que as fés não dominantes têm condições de prosperar. Os efeitos da religião sobre a democracia são mais problemáticos.
Religiões operam com absolutos morais, como
as noções de pecado e recompensa ou castigo eternos. Os mandamentos divinos vêm,
por exemplo, na forma de imperativos singulares, cada um deles inviolável, não
de um plano de metas do qual tenhamos de cumprir 70% ou 80%. Ao pautar a
política por uma lógica espiritual, o discurso religioso estimula as pessoas a
tratar as questões que envolvem costumes de forma dogmática ou maniqueísta, o
que constitui uma espécie de negação da própria política.
Enquanto uma lei positiva se justifica por
sua racionalidade, comporta gradações e pode ser objeto de negociação, o
pecado, por ter sido definido por uma autoridade incontestável, vem na forma de
pacotes fechados. E, vale lembrar, negociações que levem a acordos e
compromissos são o feijão com arroz da política nas democracias.
Não sou muito otimista quanto à
possibilidade de solução estável. O problema de base é que não dá para tirar a
religião da equação. Na democracia, clérigos são livres para pregar o que bem
desejarem, e eleitores só devem satisfações do voto a suas consciências. Na
verdade, seria impossível pedir às pessoas que não levem em conta seus valores,
muitas vezes amparados em ensinamentos teológicos, na hora de fazer suas
escolhas.
A religião é uma assombração que não conseguiremos exorcizar.
Um comentário:
E quando duvidosos "ensinamentos teológicos" são mal traduzidos por pastores safados e mal intencionados? Há 2 grandes negócios no Brasil: fundar um partido político (como Bolsonaro tentou fazer e foi absolutamente incompetente até para isto) e fundar uma religião! Bolsonaro tem grande afinidade com os negociantes e "empresários" do segundo tipo, mercadores e fraudadores da palavra divina! Estes também se aproveitam e se beneficiam das mentiras do miliciano corrupto!
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