O Globo
Governo chegou a considerar que
bolsonaristas haviam tomado o poder à força
No meio da tarde do último domingo, quando
bolsonaristas dominavam todos os prédios da Praça dos Três Poderes, o governo
chegou a considerar que a extrema direita havia conseguido dar um golpe de
Estado.
“O golpe se consumou? Tecnicamente, sim”,
admite o ministro da Justiça, Flávio Dino. “Um golpe se consuma quando os
conspiradores tomam os palácios. Pela primeira vez na história, eles ocuparam
as sedes dos Três Poderes”, explica.
Às 15h40, o prédio do Supremo Tribunal
Federal foi invadido por hordas que destruíram o plenário e saquearam até o
brasão da República. Àquela altura, os salões do Congresso e do Palácio do
Planalto já haviam sido depredados.
O presidente Lula estava em Araraquara, onde vistoriava estragos feitos pela chuva. Avisado do quebra-quebra, suspendeu a agenda e improvisou uma sala de crise no gabinete do prefeito.
Em Brasília, Dino cobrava as autoridades
locais, exasperava-se com a inação da polícia e assistia pela janela ao avanço
dos extremistas. Quando ficou claro que o governo do Distrito Federal estava à
deriva, recorreu ao presidente.
“Liguei e mencionei as alternativas
jurídicas possíveis. Ele optou pela intervenção federal”, conta o ministro. A
decisão criou um problema inusitado. “Flávio, como eu assino?”, perguntou Lula.
Sem a opção de esperar um portador, o ministro orientou o chefe a imprimir o
documento, autografá-lo à mão e enviar uma foto pelo celular.
“Fizemos uma intervenção federal pelo WhatsApp.
Era o único meio possível”, afirma Dino. Às 17h55, Lula anunciou sua decisão.
Com o decreto no aplicativo de mensagens, o ministro passou a distribuir
ordens. Seu braço-direito, Ricardo Cappelli, desceu até a Esplanada e assumiu o
comando da tropa.
Em cinco minutos, a polícia fez as
primeiras prisões e começou a esvaziar o Planalto e o Supremo. A desocupação do
Congresso ainda exigiria reforços da cavalaria e de helicópteros da PM.
O interventor penou para impor sua
autoridade. Enquanto extremistas vandalizavam o Planalto, o comandante do
Batalhão da Guarda Presidencial bateu boca com policiais da tropa de choque.
Queria evitar a prisão de quem atacava o prédio que ele deveria proteger.
No fim da noite, Dino e Cappelli
enfrentariam mais um obstáculo fardado. O Exército montou uma barricada para
impedir que a PM entrasse no acampamento golpista ao lado do Quartel-General.
As barracas só seriam desmontadas na manhã seguinte, quando muitos criminosos
já haviam fugido do local.
Quem acompanhou as horas de tensão no
Ministério da Justiça viu Dino travar diálogos ásperos com o chefe do Gabinete
de Segurança Institucional, general Gonçalves Dias, e com o chefe da Casa Civil
do DF, Gustavo do Vale Rocha.
A 785 km de distância, Lula farejou a
sabotagem em Brasília. Às 18h em ponto, o presidente constatou: “Houve
incompetência, má vontade ou má-fé das pessoas que cuidam da segurança pública
do Distrito Federal”.
Esqueceram de mim
Ao menos uma autoridade tem o que comemorar
depois do quebra-quebra em Brasília: a ministra do Turismo, Daniela Carneiro.
Desde o domingo passado, ninguém mais fala de suas conexões com milicianos. O 8
de Janeiro salvou a pele da primeira-dama de Belford Roxo.
3 comentários:
Bem observado
O colunista nos mostra uma visão ainda pior de membros da cúpula das Forças Armadas!
Concordo com o segundo comentário.
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