Folha de S. Paulo
Não houve um pronunciamento à nação, em
rede nacional, do presidente nem comunicado conjunto das Forças Armadas
O 8/1 foi uma tentativa, mesmo que um tanto
ridícula, de produzir um golpe militar contra o governo eleito. Cinco dias
depois, muito aconteceu. Não há registro, porém, de dois eventos tão
previsíveis quanto necessários: um pronunciamento à nação, em rede nacional, do
presidente da República e um comunicado conjunto do Ministério da Defesa e dos
três comandantes das Forças Armadas.
Lula falou bastante, na reunião com os governadores e em entrevistas. Mas não fez um pronunciamento oficial aos brasileiros. Após golpes fracassados, chefes de Estado ou de governo sempre falam, oficialmente, ao conjunto dos cidadãos. Não é uma formalidade: trata-se de afirmar, do modo mais claro, que o governo legal mantém todas as rédeas do poder.
O silêncio de Lula abre espaço para as mais
diversas e tresloucadas hipóteses conspiratórias. Propicia a difusão de boatos
nas redes (anti)sociais. Contribui para um clima geral de insegurança, que não
tem fundamento real. Por que o presidente não falou?
Tão estranha quanto isso é a ausência de um
comunicado assinado pelo ministro da Defesa e os comandantes do Exército, da
Marinha e da Aeronáutica. Durante o (des)governo de Bolsonaro, emergiram notas
oficiais conjuntas dos militares –e nem todas para dizer as coisas certas.
Como, nas circunstâncias criadas pelo 8/1, explicar a falta de uma?
Os golpistas que vandalizaram os prédios
dos Três Poderes conclamavam os militares a deixar os quartéis para violar a
Constituição e destruir a ordem democrática. O plano deu em nada. Contudo, os
comandantes militares não podem se furtar ao dever de responder ao chamado dos
golpistas com um sonoro "Não!". O silêncio deles sugere que se
recusam a dissolver as esperanças malucas do bolsonarismo duro.
O comunicado teria que esclarecer a posição
constitucional e legalista das Forças Armadas. Dirimir qualquer dúvida sobre a
lealdade às instituições democráticas, o que abrange a subordinação militar ao
governo civil eleito regularmente. Explicitar o repúdio das três forças ao
golpismo, sejam quais forem suas origem e inclinação ideológica. A ausência
desse comunicado só pode ser interpretada como prosseguimento da prolongada
leniência frente às articulações e ações dos golpistas.
Múcio disse que "joga na defesa, não no ataque". Passa da hora de jogar "na defesa" das instituições democráticas, não "na defesa" da ambiguidade dos militares diante dos inimigos da legalidade.
8 comentários:
É uma besta boquirrota, esse
E como sempre o colunista falando pelos cotovelos e pouco acrescentando...
Será que Magnoli não entende que acabou o DESgoverno Bolsonaro e que Lula governa de outra forma?
Quando Magnoli for presidente, poderá tomar suas medidas.
Se o golpe da Direita foi Tabajara, a reação da Esquerda foi Jabuticaba. Haja incompetência nestes brasis...
Ainda não entendo como sobrevivemos sem estas duas providências tão indispensáveis...
Demétrio sabe das coisas.
Sabe das coisas dele, e olhe lá...
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