O Globo
Existe uma enorme diferença entre repassar
menos lucro aos acionistas e absorver prejuízos com subsídios a mando do
governo federal. Achar esse ponto de equilíbrio será o grande desafio do
presidente da Petrobras, Jean Paul Prates. A entrevista coletiva do ex-senador,
na quinta-feira, no Rio, prezou pela transparência. Prates abriu diálogo com
jornalistas, muitos especializados no setor de energia, e não deixou de
responder a nenhuma pergunta. Ao mesmo tempo em que criticou a política de
Paridade de Preços de Importação (PPI), a qual chamou de “abstração”, também
negou que venderá combustíveis a um preço menor do que produz.
— Não vou canibalizar ou aniquilar a minha margem (da Petrobras). Tem um momento em que vou parar (de reduzir o preço). Mas, até um determinado ponto, eu posso disputar o mercado com o importador, por que não? — disse.
A dificuldade da estratégia é que o Brasil
não é autossuficiente na produção de derivados. Cerca de 20% da oferta vem de
fora. O país depende, portanto, da importação de combustíveis, e se os
importadores entenderem que não conseguem competir com uma gigante como a
Petrobras, haverá, em um caso extremo, o risco de faltar produto. Nesse
cenário, caberá à estatal fazer a importação e arcar com o prejuízo.
O resultado disso o país já viu na prática.
Em 2014, a ex-presidente Dilma, buscando a reeleição, levou essa política ao
limite, e a Petrobras fechou o ano com prejuízo de R$ 34 bilhões, segundo a
Trademap. Em 2015, rombo de R$ 50 bi, seguido de perdas de R$ 20 bilhões, em
2016, e mais R$ 457 milhões no negativo em 2017. No total, R$ 104,4 bilhões no
vermelho, o que tornou a Petrobras a empresa do setor mais endividada do mundo.
Por mais que o PT critique a PPI, foi ela que reverteu o quadro.
O que Prates está tentando dizer é que
existe um caminho do meio:
— Talvez a gente tenha transitado em uma
solução exagerada para um lado, e depois fomos para o exagero do outro, que é a
imposição do preço de importação — afirmou na coletiva.
Ele defendeu mudanças na política de
dividendos, que estaria tirando recursos de investimentos, mas disse que a sua
função também é manter a empresa atrativa para os minoritários.
— Ser sócio do governo não é um ônus, mas
um bônus — disse ele.
Bolsonaro trocou a presidência da companhia
quatro vezes por discordar da política de preços. Nunca foi exemplo de gestão,
e os altos lucros da Petrobras têm relação com as cotações internacionais. No
mercado, a avaliação é de que haverá alguma intervenção do governo petista, mas
isso já “está no preço” do papel, e por isso as ações caíram num dia e subiram
no outro.
Há espaço para mudanças, mas, se Prates
repetir os erros do governo Dilma, estará certamente contratando uma nova
crise.
Longa estagnação
Mesmo com o crescimento de 2,9% do PIB em
2022, a economia brasileira está só levemente acima do patamar do primeiro
trimestre de 2014, como mostra o gráfico abaixo. Isso significa que o país não
saiu do lugar nove anos depois. O cenário para o governo Lula está longe de ser
confortável, e o risco para o presidente é tropeçar nas próprias promessas de
crescimento fácil. Ele não virá da forma como Lula espera.
Pressão no Banco Central
A pressão sobre o Banco Central por parte
do governo deve aumentar consideravelmente nos próximos meses se as projeções
do banco UBS BB se concretizarem. Ao contrário da mediana do mercado
financeiro, o banco de investimentos espera que a inflação deste ano fique em
4,9%, muito abaixo do que diz o Boletim Focus, que está com 5,9%. Segundo os
economistas Rodrigo Martins, Fábio Ramos e Alexandre de Ázara, a inflação
acumulada em 12 meses cairá para próximo de 3,5% em junho, o que deve estimular
a artilharia governista contra Roberto Campos Neto. Para 2024, o UBS BB estima
alta de 3,5%, contra 4% projetado pelo mercado.
Um comentário:
Boa aposta
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