Folha de S. Paulo
Os dois parecem se reconhecer como
políticos que cumprem acordos, mas também como ameaças
A Polícia
Federal amanheceu na porta de um auxiliar de Arthur Lira nesta
quinta-feira (1º). A operação mirava uma suspeita de desvio de
dinheiro público com verba de emendas parlamentares. Horas mais
tarde, ainda antes do almoço, o deputado chamou o ministro da Justiça à
residência oficial da presidência da Câmara para uma conversa.
Não é preciso saber o que foi dito no encontro para medir a tensão que a operação acrescenta à convivência de Lira com o governo. Aliados do presidente da Câmara tratam o momento da batida como uma armação do governo, que controla a PF. Já Flávio Dino só foi à casa do deputado porque precisava amortecer o risco que essa convicção representa.
A semana agravou o que já era uma relação
de desconfiança. Lula e
Lira parecem reconhecer um ao outro como personagens que cumprem acordos, mas
também têm poder suficiente para ameaçar a sobrevivência de adversários. Lula quase
perdeu toda a Esplanada dos Ministérios, e Lira viu o cerco da
polícia.
Os sinais emitidos pelos dois lados
apontam, por enquanto, para um pacto de não destruição. Depois de ser
emparedado pelo centrão, Lula disse que poderia até avaliar a entrega de um
ministério para o grupo de Lira. Depois de conversar com Dino, o presidente da
Câmara disse que a operação da PF não o atingia e nem era uma provocação.
Os dois podem ter, a partir de agora, um
acerto baseado em termos bem definidos, mas não uma aliança de fidelidade
plena. O perigo para ambos é que políticos que convivem com riscos permanentes
à própria sobrevivência podem acabar preferindo usar o poder que têm para se
proteger, sufocar ameaças ou provocar explosões em massa.
Eduardo Cunha só rompeu com
Dilma Rousseff, em julho de 2015, depois de saber que a PGR havia
conseguido um depoimento que o incriminava. O então presidente da Câmara acreditava
num conluio do governo com Rodrigo Janot para derrubá-lo. "Todo
mundo ia atirar. E todo mundo iria morrer", escreveu.
Um comentário:
É...
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