quarta-feira, 2 de agosto de 2023

Marcelo Godoy - A vez de Tarcísio e as câmeras

O Estado de S. Paulo

Assim como em Roma, as imagens podem definir se a polícia agiu dentro da lei no Guarujá

A vingança é uma licença para castigar o mau, o celerado e o injusto. Ela libera a violência do algoz e isenta o seu autor de toda condenação que julga moralmente válida. A vontade satisfeita pela brutalidade vê afastar de si a impotência diante da ofensa.

A vingança não respeita proporção. Não tem medida. Ou limite. Não se apazigua a perda da visão com a cegueira imposta ao agressor. Nada pode detê-la, exceto a natureza: Macbeth não tem filhos, daí porque a vingança de Macduff é impossível.

Quando o bando de Joãozinho Bem-Bem é atacado em um povoado, o líder dos jagunços quer se vingar da família do agressor. Exige matar um dos irmãos do assassino de Juruminho e estuprar as suas irmãs. Só não consuma o crime porque Nhô Augusto o detém, pois a sentença do Bem-Bem era “coisa que nem Deus manda, nem o diabo faz!” No conto de Guimarães Rosa, todo mundo tem a sua hora e a sua vez.

Nas sociedades modernas, a cidadania pôs a vingança além do juízo de indivíduos e grupos.

E também de magistrados e policiais. É por isso que só quando as leis e as regras são suspensas essa licença pode de novo se manifestar entre os homens.

Quando a PF bateu na porta do empresário que atacou Alexandre de Moraes em Roma, era possível associar o peso da toga do ministro do Supremo à pronta reação policial. A diferença entre a medida e a desmedida, entre a acusação do ministro e a versão do acusado, estava em uma prova nas mãos das autoridades italianas: as imagens das câmeras do aeroporto de Fiumicino. A jornalista Eliane Cantanhêde mostrou que elas dão razão ao ministro sobre a agressão. Resta saber se a ofensa teve uma resposta proporcional.

Na semana passada, o soldado Patrick Bastos Reis foi assassinado por um facínora no Guarujá. A anomia há muito tomou conta das comunidades carentes do País, entregues à tirania da criminalidade organizada. A reação que se seguiu da polícia – patrocinada pelo secretário da Segurança, Guilherme Derrite – deixou 14 mortos. Há denúncias de abusos, torturas e execuções.

O governador Tarcísio de Freitas garantiu que tudo ocorreu dentro da lei.

Como em Roma, aqui também imagens de câmeras podem demonstrar quem está com a razão. Por mais que se odeie um criminoso, ao Estado não é dado o direito de agir como Joãozinho BemBem. Desde 2021, os policiais da Rota carregam bodycams. Tarcísio era contra o equipamento, mas o manteve.

A Corregedoria da PM e o Ministério Público vão verificar o que foi gravado. Se as câmeras estavam ligadas e usadas corretamente, vão mostrar as ações. Se Tarcísio estiver certo, tudo irá para o arquivo. Caso contrário, os autores de abusos vão conhecer a sua hora e a sua vez.

 

 

2 comentários:

hisayo nanami disse...

COMO DIZIA BENTO CARNEIRO, VAMPIRO BRASILEIRO, 'A VINGANÇA SERÁ MALÍGRINA!'
A DO GOVERNADOR QUE ESCOLHERAM: 14x1

EdsonLuiz disse...

Realmente; estes governantes precisam orientar as polícias para uma segurança mais cidadã :
▪As polícias dos estados de São Paulo e da Bahia, principalmente, mas não só, estão trucidando gente em suas operações.

Dos 1°s governos Lula para cá a legislação foi direcionada ainda mais para a punição e as polícias só têm prendido, prendido, prendido e, em n° muito maior que efeitos secundários inevitáveis em operações de segurança,...matado!