Valor Econômico
Em 2024 também se comemoram os 25 anos do
sistema de metas de inflação no Brasil
Dizem que as previsões dos economistas são
ótimas para dar credibilidade aos astrólogos e meteorologistas. E que, se todos
os economistas forem colocados juntos, nunca chegarão a um consenso.
Com uma fama dessas, parece loucura basear a
condução do país na coordenação das expectativas dos economistas sobre o
futuro.
Nas últimas semanas, muita atenção se deu ao fato de que a maioria do mercado errou suas previsões para a economia brasileira em 2023. O ano passado fechou com números bem melhores do que o esperado: dólar a R$ 4,85 (contra previsão de R$ 5,28), taxa Selic em 11,75% (a expectativa era de 12,25%), inflação abaixo de 4,7% (versus 5,3% do mercado) e crescimento em torno de 3% (muito superior à pessimista marca de 0,79%).
Não se pretende aqui exercer uma das
principais habilidades maldosamente atribuídas à minha profissão: explicar no
futuro as razões pelas quais suas previsões feitas no passado não aconteceram
no presente.
Em defesa da classe, é preciso reconhecer que
não é fácil prever as principais variáveis macroeconômicas. Afinal, o resultado
do PIB, a inflação ou o câmbio são frutos de decisões de milhões de
consumidores, produtores, comerciantes, exportadores, importadores, poupadores
e investidores, residentes no Brasil ou no exterior. Esses grupos interagem a
todo instante, e cada um dos seus integrantes possui objetivos próprios e
expectativas diferentes; uns mais avessos ao risco, outros mais arrojados;
alguns otimistas, outros mais cautelosos.
No meu texto anterior para o Valor, ao
tratar das efemérides de 2024, lembrei do 30º aniversário do Real. No entanto,
é importante não esquecer que o plano econômico quase naufragou menos de cinco
anos depois do seu lançamento, quando o governo foi obrigado a abandonar a
âncora cambial e deixar o real flutuar conforme as forças do mercado.
Nos meses que se seguiram, o dólar disparou
ao sabor da especulação e dos temores de volta da hiperinflação. E foi aí que a
diretoria do Banco Central, agora com Armínio Fraga no comando do barco,
resolveu testar no Brasil uma ideia que até então havia funcionado apenas nos
manuais de macroeconomia e em países bem menos complexos e desafiadores.
O sistema de metas de inflação baseia-se numa
ideia que, de tão singela, parece improvável de funcionar. O governo anuncia
publicamente um patamar para a inflação no futuro e dá ao Banco Central os
instrumentos e a autonomia para perseguir aquele objetivo. Com o tempo, ao se
mostrar bem-sucedido na sua missão, o BC adquire credibilidade e as pessoas e
empresas passam a não apenas acreditar nas suas metas, como a racionalmente
incorporar aquelas previsões em suas negociações e contratos.
Uma forma de se medir o sucesso de uma
política monetária orientada por metas de inflação é verificar como se
comportam as previsões dos economistas frente ao desempenho efetivo das
variáveis macroeconômicas.
É verdade que choques ocorrem - e os últimos
25 anos foram pródigos em surpresas tanto externas (11 de Setembro, crise
financeira de 2008, pandemia), além das tradicionais reviravoltas políticas
internas.
No geral, porém, observa-se uma boa
aproximação entre a previsões do mercado (expressas pelo boletim Focus) quanto
do governo (colhidas nos parâmetros orçamentários) em relação ao efetivamente
ocorrido.
Até o valor do dólar, uma das variáveis mais
difíceis de se prever (“Deus inventou o câmbio para humilhar os economistas”,
diz a piada) apresenta uma discrepância abaixo de 10% em relação às estimativas
com um ano de antecedência, exceto nos anos de grandes crises internacionais ou
domésticas.
Em meio a tanta incerteza quanto às decisões
que uma infinidade de agentes econômicos irá tomar, em 2024 precisamos
comemorar o feito de o Banco Central, sob diferentes governos, tem conseguido
há um quarto de século guiar as expectativas dos brasileiros (e dos
estrangeiros que fazem negócios com o Brasil) a respeito do futuro com base na
previsibilidade, na confiança e na credibilidade.
*Bruno Carazza é professor associado da
Fundação Dom Cabral e autor de “Dinheiro, Eleições e Poder: as engrenagens do
sistema político brasileiro” (Companhia das Letras)”.
Um comentário:
Lendo e aprendendo.
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