“Aqui preciso que a concepção negativa em
Marx é ainda mais evidente se comparada com aquela extremamente positiva de seu
grande predecessor e antagonista, Hegel. Quanto à relação entre sociedade civil
e estado, a posição de Marx é antitética à de Hegel: para Hegel, o estado é
“racional em si e para si”, o “deus-terreno”, o sujeito da história universal:
em suma, o momento final do Espírito Objetivo; como tal, é a superação das
contradições que se manifestam na sociedade civil. Para Marx, ao contrário, o
estado é tão só o reflexo destas contradições, não sua superação, mas sua
perpetuação. Não só para Hegel, resto, mas para a maior parte dos filósofos
clássicos, o estado representa um momento positivo na formação do homem civil,
O fim do estado é ora a justiça (Platão), ora o bem comum (Aristóteles), ora a
felicidade dos súditos (Leibniz), ora a liberdade (Kant), ora a máxima
expressão do ethos de um povo (Hegel). O estado, de praxe, é
considerado como a saída do homem do estado de barbárie ou do estado de
natureza caracterizado pela guerra de todos contra todos, como domínio da razão
sobre a paixão, da reflexão sobre o instinto.”
*Norberto Bobbio (1909-2004). “A Teoria das
formas de governo”, p. 182, 1ª edição. Edipro, 2017 (tradução de Luiz Sérgio
Henriques).
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