sexta-feira, 7 de maio de 2010

Serra acena com governo compartilhado

DEU NO ESTADO DE MINAS

No primeiro debate antes do início da campanha, José Serra “chama” PT e PV a participar da administração tucana, caso vença disputa de outubro. Proposta foi apoiada por Marina Silva, mas não teve resposta de Dilma

Daniela Almeida, Isabella Souto e Juliana Cipriani

Belo Horizonte — No primeiro encontro entre os três pré-candidatos à Presidência da República, em Belo Horizonte, o tucano José Serra convidou o PT, da ex-ministra Dilma Rousseff, e o PV, da senadora Marina Silva, para governar com ele, caso seja eleito para suceder o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A ideia veio em resposta a uma fala de Marina, que defendeu um realinhamento histórico entre os partidos, acabando com a guerra entre situação e oposição, que emperram avanços e reformas em todos os governos. Dilma ignorou a proposta dos adversários e não comentou o assunto quando questionada pela imprensa.

Em um debate tumultuado para uma plateia de cerca de 400 prefeitos e políticos, transmitido ao vivo por uma emissora de televisão, os três evitaram ataques. Ao falar sobre a dificuldade de se aprovar a reforma tributária, a senadora Marina Silva afirmou que é preciso aprender com os erros. De acordo com ela, a sistemática política brasileira faz com que governo fique refém de aliados para enfrentar a oposição. “O PSDB ficou refém do que há de pior no DEM. E o PT, do que há de pior no PMDB. A história nos ensinou que temos que conversar”, disse, arrancando aplausos.

Em seguida, Serra concordou com a adversária e afirmou que, se eleito, vai convidar PT e PV para participarem do seu governo. “Pode parecer uma heresia o que eu vou falar: se eleito, vou querer PT e PV no governo em função de objetivos comuns, com base em programas. O Brasil vai precisar estar junto nos próximos anos. Hoje e ontem a oposição sempre teve um comportamento que empurra o governo para um lado que não devia”, justificou. Na saída, Marina completou que é importante que as pessoas estejam dispostas a conversar. “Eu coloquei a ideia primeiro”, disse.

Autonomia

Convidados para falar sobre autonomia municipal, Serra e Marina concentraram os discursos na defesa da revisão do pacto federativo e do fortalecimento dos municípios, enquanto Dilma listou realizações do governo Lula, principalmente no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), que comandou quando ministra. Dilma foi vaiada quando falou sobre a isenção do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para carros e eletrodomésticos como forma de conter os efeitos da crise financeira mundial. A desoneração gerou uma das principais queixas dos prefeitos já que, junto com o Imposto de Renda, o tributo compõe o Fundo de Participação dos Municípios, maior fonte de renda de 60% das prefeituras mineiras.

A pré-candidata do PT afirmou que a desoneração foi uma forma de evitar o desemprego no país e lembrou que o governo federal destinou R$ 2 bilhões para compensar parte da perda sofrida pelas prefeituras, avaliada em R$ 3,5 bilhões. “Nós modificamos a relação federativa. Nunca deixamos de dialogar e nem reprimimos a marcha dos prefeitos”, afirmou. José Serra ressaltou que, enquanto prefeito e governador de São Paulo nunca foi discriminado por ser do PSDB, mas criticou a isenção do IPI, incorporando o discurso dos prefeitos. “Não vamos fazer benefícios com chapéu alheio”, disse, sugerindo que a desoneração deveria ter sido feita de forma gradual, com a criação de um mecanismo automático de reposição de todas as perdas.

Serra e Marina propuseram que as reformas, como a tributária, sejam feitas por meio de uma assembleia constituinte exclusiva para discuti-las. Segundo ambos, os conflitos de interesses sobre os temas são intermináveis e se sobrepõem às votações. “A questão tributária precisa ser encarada como algo que não tem a ver com partidos”, disse Serra. Dilma afirmou que só será feita a reforma tributária se houver um acerto entre perdas e ganhos. “Todos vão ter ganhos com a reforma a médio prazo”, disse.

Royalties

A necessidade de uma proposta para a revisão do pagamento de royalties de minério em Minas Gerais foi o único consenso entre os três. Segundo Dilma, as riquezas são de todos. “Concordo com o Serra no que se refere aos royalties do minério. É um absurdo o nível de royalties cobrados da mineração porque é um recurso natural. Acho que é uma questão de dívida com a nação”, disse. Já Marina afirmou que é preciso gerar riquezas para o povo de Minas Gerais.

Serra fez afagos nas adversárias, que chamou de “mulheres de valor”. Segundo o tucano, a senadora foi essencial para a aprovação da Emenda Constitucional nº 29, que trata da desatinação de recursos para a saúde. Serra também elogiou a postura de Dilma enquanto ministra da Casa Civil, por não ter discriminado partidos de oposição. Já Marina elogiou o governo Lula, do qual já fez parte, dizendo que o petista quebrou um paradigma ao mostrar que o crescimento do país poderia vir junto com a distribuição de renda.

" Nós modificamos a relação federativa. Nunca deixamos de dialogar e nem reprimimos a marcha dos prefeitos

(Dilma Rousseff, pré-candidata do PT)

" O PSDB ficou refém do que há de pior no DEM. E o PT, do que há de pior no PMDB. A história nos ensinou que temos que conversar

(Marina Silva, pré-candidata do PV)

" Pode parecer uma heresia o que eu vou falar: se eleito, vou querer PT e PV no governo em função de objetivos comuns, com base em programas

(José Serra, pré-candidato do PSDB)

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