O mundo assiste em tempo real aos desdobramentos da tragédia que abalou o Japão e torce para que a situação não ganhe contornos ainda mais dramáticos, já que a toda hora surgem novas notícias sobre tremores e o risco de um acidente nuclear de grandes proporções não está afastado. Mas a catástrofe japonesa não abalou os mercados, nem deve mudar os rumos da economia mundial.
A bolsa de Tóquio fechou ontem com forte queda, de 6,18%, refletindo os prejuízos da tragédia para a economia local. Uma parte do país praticamente sumiu do mapa e a reconstrução custará caro, mas a reação dos demais mercados foi amena. As bolsas asiáticas fecharam com pequenas altas ou pequenas quedas, assim como a Nasdaq e as bolsas europeias.
No Brasil, a Bovespa fechou em alta de 0,73%, com forte destaque para a Usiminas, que viu suas ações subirem mais de 9%. A crise no Japão pode diminuir a oferta de aço mundial e favorecer a indústria siderúrgica brasileira.
Para analistas, a reação dos mercados reflete o peso do Japão na economia mundial. A terceira economia do mundo há tempos não é mais o motor do crescimento econômico. E o Brasil estaria em uma posição ainda mais segura, como exportador de matérias-primas, como o minério de ferro e o aço, cuja demanda deve aumentar fortemente no processo de reconstrução do país asiático.
Na visão do economista Gustavo Loyola, ex -presidente do Banco Central e sócio da Tendências Consultoria, o Brasil não tem motivos para grandes preocupações, já que a crise japonesa não deve afetar nenhuma variável econômica que nos diga respeito, como preços de commodities ou oferta de alimentos, por exemplo. Se o desastre fosse na China, o efeito seria muito maior:
- Não vejo o Japão alterando de forma expressiva as perspectivas internacionais. Me preocupa mais a crise no Oriente Médio.
O economista Cristiano Souza, do Santander, tem avaliação parecida. Acredita que a crise no Japão também não deve prejudicar os investimentos no Brasil.
- Os possíveis canais de contágio são muito pequenos. Ninguém vai desmanchar uma fábrica. Não muda o panorama de demanda do país - afirma.
Essa percepção é reforçada pela manifestação da Jetro, agência de comércio exterior ligada ao Ministério da Economia japonês, que promove, além do comércio, investimentos mútuos entre o Japão e o resto do mundo.
Segundo a Jetro, mais de 90% dos empresários que têm procurado os serviços do escritório em São Paulo estão baseados na região de Tóquio ou na região oeste do Japão, áreas que não foram muito afetadas pelo terremoto e pela tsunami. Portanto, considera pouco provável que haja uma queda nos investimentos japoneses no Brasil em decorrência dos desastres.
Ressalva
Para José Augusto de Castro, da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), o impacto da tragédia japonesa sobre nossas exportações não pode ser desconsiderado. Ele prevê atrasos e filas no desembarque de produtos, já que o terremoto danificou portos importantes do país. O Japão é o sexto principal parceiro comercial do Brasil. A corrente de comércio entre os dois países atingiu US$14,1 bilhões em 2010, recorde histórico.
Dia seguinte
Já Francisco Turra, da União Brasileira de Avicultura (Ubabef), conta que no primeiro dia de negócios com os japoneses, após a tragédia, não houve cancelamento de pedidos. O Japão é o segundo maior comprador de frangos do Brasil e a expectativa da Ubabef é de crescimento de 5% a 10% no volume exportado para o país este ano, totalizando US$1 bilhão em vendas.
- Este é o momento de o Brasil fazer o máximo para ajudar os japoneses, porque eles devem priorizar a compra de alimentos. É um mercado importante para nós, porque vendemos muito frango processado, de maior valor agregado - disse.
Fora de foco
Os possíveis efeitos da crise japonesa sobre a economia brasileira foram mencionados de forma rápida e genérica nas reuniões de economistas e analistas de mercado com o Banco Central, ontem, em São Paulo. Ninguém mostrou grande apreensão com esse fato novo no cenário externo. O que predominou foi a preocupação com a inflação em alta e com a rigidez dos preços dos alimentos e serviços, que não são diretamente afetados pela política monetária e fiscal. O efeito do reajuste do salário mínimo em 2012 sobre a inflação de serviços foi um dos problemas levantados.
Muitas dúvidas sobre as tais medidas macroprudenciais, mencionadas na última ata do Copom, que, pelo tom da ata, já seriam favas contadas para o mercado. Mas ninguém sabe exatamente o que a equipe econômica planeja e isso traz ainda mais insegurança, segundo um analista.
Em comum nas análises, a percepção de que a economia está desacelerando, enquanto a grande dúvida é o ritmo dessa desaceleração, já que os sinais são contraditórios, com a demanda por crédito ainda aquecida e o mercado de trabalho sem sinais claros de desaquecimento.
As reuniões do Banco Central com representantes do mercado, de grandes empresas e de consultorias servem de subsídio para a elaboração do relatório de inflação, mas o BC não se manifesta nesses encontros, é só ouvidos.
FONTE O GLOBO
A bolsa de Tóquio fechou ontem com forte queda, de 6,18%, refletindo os prejuízos da tragédia para a economia local. Uma parte do país praticamente sumiu do mapa e a reconstrução custará caro, mas a reação dos demais mercados foi amena. As bolsas asiáticas fecharam com pequenas altas ou pequenas quedas, assim como a Nasdaq e as bolsas europeias.
No Brasil, a Bovespa fechou em alta de 0,73%, com forte destaque para a Usiminas, que viu suas ações subirem mais de 9%. A crise no Japão pode diminuir a oferta de aço mundial e favorecer a indústria siderúrgica brasileira.
Para analistas, a reação dos mercados reflete o peso do Japão na economia mundial. A terceira economia do mundo há tempos não é mais o motor do crescimento econômico. E o Brasil estaria em uma posição ainda mais segura, como exportador de matérias-primas, como o minério de ferro e o aço, cuja demanda deve aumentar fortemente no processo de reconstrução do país asiático.
Na visão do economista Gustavo Loyola, ex -presidente do Banco Central e sócio da Tendências Consultoria, o Brasil não tem motivos para grandes preocupações, já que a crise japonesa não deve afetar nenhuma variável econômica que nos diga respeito, como preços de commodities ou oferta de alimentos, por exemplo. Se o desastre fosse na China, o efeito seria muito maior:
- Não vejo o Japão alterando de forma expressiva as perspectivas internacionais. Me preocupa mais a crise no Oriente Médio.
O economista Cristiano Souza, do Santander, tem avaliação parecida. Acredita que a crise no Japão também não deve prejudicar os investimentos no Brasil.
- Os possíveis canais de contágio são muito pequenos. Ninguém vai desmanchar uma fábrica. Não muda o panorama de demanda do país - afirma.
Essa percepção é reforçada pela manifestação da Jetro, agência de comércio exterior ligada ao Ministério da Economia japonês, que promove, além do comércio, investimentos mútuos entre o Japão e o resto do mundo.
Segundo a Jetro, mais de 90% dos empresários que têm procurado os serviços do escritório em São Paulo estão baseados na região de Tóquio ou na região oeste do Japão, áreas que não foram muito afetadas pelo terremoto e pela tsunami. Portanto, considera pouco provável que haja uma queda nos investimentos japoneses no Brasil em decorrência dos desastres.
Ressalva
Para José Augusto de Castro, da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), o impacto da tragédia japonesa sobre nossas exportações não pode ser desconsiderado. Ele prevê atrasos e filas no desembarque de produtos, já que o terremoto danificou portos importantes do país. O Japão é o sexto principal parceiro comercial do Brasil. A corrente de comércio entre os dois países atingiu US$14,1 bilhões em 2010, recorde histórico.
Dia seguinte
Já Francisco Turra, da União Brasileira de Avicultura (Ubabef), conta que no primeiro dia de negócios com os japoneses, após a tragédia, não houve cancelamento de pedidos. O Japão é o segundo maior comprador de frangos do Brasil e a expectativa da Ubabef é de crescimento de 5% a 10% no volume exportado para o país este ano, totalizando US$1 bilhão em vendas.
- Este é o momento de o Brasil fazer o máximo para ajudar os japoneses, porque eles devem priorizar a compra de alimentos. É um mercado importante para nós, porque vendemos muito frango processado, de maior valor agregado - disse.
Fora de foco
Os possíveis efeitos da crise japonesa sobre a economia brasileira foram mencionados de forma rápida e genérica nas reuniões de economistas e analistas de mercado com o Banco Central, ontem, em São Paulo. Ninguém mostrou grande apreensão com esse fato novo no cenário externo. O que predominou foi a preocupação com a inflação em alta e com a rigidez dos preços dos alimentos e serviços, que não são diretamente afetados pela política monetária e fiscal. O efeito do reajuste do salário mínimo em 2012 sobre a inflação de serviços foi um dos problemas levantados.
Muitas dúvidas sobre as tais medidas macroprudenciais, mencionadas na última ata do Copom, que, pelo tom da ata, já seriam favas contadas para o mercado. Mas ninguém sabe exatamente o que a equipe econômica planeja e isso traz ainda mais insegurança, segundo um analista.
Em comum nas análises, a percepção de que a economia está desacelerando, enquanto a grande dúvida é o ritmo dessa desaceleração, já que os sinais são contraditórios, com a demanda por crédito ainda aquecida e o mercado de trabalho sem sinais claros de desaquecimento.
As reuniões do Banco Central com representantes do mercado, de grandes empresas e de consultorias servem de subsídio para a elaboração do relatório de inflação, mas o BC não se manifesta nesses encontros, é só ouvidos.
FONTE O GLOBO
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