sábado, 7 de maio de 2011

Chegou a hora de pisar no freio

José Paulo Kupfer

A inflação furou o teto da meta em abril e é possível que até setembro o estouro do teto vá mais longe, embora as projeções indiquem recuo nos índices mensais daqui para o fim de 2011. Uma fatalidade estatística comanda esse vaivém de índices e ela deriva dos resultados baixíssimos - zero ou quase zero - do IPCA em junho, julho e agosto de 2010. Nos próximos meses, nenhuma inflação mensal evitará novas altas em 12 meses.

Apesar dessa trajetória esperada de altas, também é possível que a variação do IPCA termine o ano dentro da faixa definida para a meta de inflação. Inflações mais altas, no último trimestre de 2010, devem contribuir nesse sentido, mas o fator determinante para conter o índice dentro dos limites tem mais a ver com sinais recentes de mudança de ênfase na política econômica.

Entre conter a inflação e ceder no ritmo de crescimento da economia, o pêndulo da balança, antes dado como equilibrado pelo governo, agora pende muito mais para um dos pratos - o da contenção dos preços. A expectativa é de que o governo ponha o pé no freio e opere na mesma direção da tendência natural de redução do ritmo da atividade econômica em relação a 2010.

Sem falar nos espaços que uma demanda aquecida abriria para repasses de custos, no setor de serviços a combinação desfavorável do calendário das campanhas salariais das categorias profissionais mais relevantes - metalúrgicos, petroleiros, bancários - com o pico da inflação em 12 meses pode ser explosiva.

À medida que 2011 avança, coincidência ou não, as projeções para o crescimento da economia recuam. As previsões iniciais de uma expansão de 5,5% já deram lugar a estimativas de uma evolução de 4%, como a assumida pelo Banco Central. Mas, a esta altura, estas já podem ser consideradas otimistas.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

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