Marina Dias, Daniela Lima, Gustavo Uribe e Catia Seabra – Folha de S. Paulo
BRASÍLIA - Planalto e oposição avaliam que a série de citações ao ministro da Casa Civil, Jaques Wagner, colocou o coração do governo mais uma vez como protagonista do escândalo de corrupção na Petrobras.
Os dois polos também concordam que as notícias envolvendo o petista interrompem um período de "calmaria" no Executivo e contaminam a tentativa da presidente Dilma Rousseff de engatar uma agenda positiva antes da retomada do debate sobre o impeachment.
Outro temor é que o partido perca uma alternativa para a disputa presidencial de 2018. Wagner é apontado como plano B se o ex-presidente Lula não concorrer.
Dilma está preocupada com o que tem chamado de "tiroteio seletivo" contra o ministro, mas tem dito que as notícias não abalam a relação entre os dois nem criam risco à sua permanência no cargo. Segundo aliados, Dilma ressalta que, até agora, não há indício de que Wagner tenha obtido vantagem pessoal.
Delator da Lava Jato, o ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró disse que o ministro recebeu recursos desviados da Petrobras para sua campanha ao governo da Bahia, em 2006. A informação foi revelada pelo jornal "Valor Econômico".
Cerveró disse que o aporte a Wagner foi dirigido pelo então presidente da Petrobras, Sérgio Gabrielli, que havia decidido transferir para a Bahia o setor financeiro da estatal. Para isso, OAS e Odebrecht foram contratadas para construir um prédio em Salvador.
Wagner apareceu ainda em em diálogos com o ex-presidente da OAS Léo Pinheiro, um dos alvos da investigação.
Conversas obtidas no telefone do empreiteiro mostram que, às vésperas da eleição de 2014, Wagner prometeu interceder pela liberação de recursos federais para a empresa. Ele também é citado por executivos da OAS como interlocutor com o governo.
Blindagem
Nesta sexta-feira (8), dirigentes do PT e integrantes do governo se dedicaram à blindagem do ministro.
Secretário de Organização do PT, Florisvaldo Souza disse estar "vendo novos vazamentos seletivos e novos espetáculos", mencionando políticos de oposição. Também da Executiva petista, o deputado Paulo Teixeira (SP) disse que as acusações são "infundadas" e "fofocas de ouvir falar".
Líder do DEM na Câmara, Mendonça Filho (PE) afirmou que o caso exige que o Congresso "acompanhe com lupa as investigações e se pronuncie sobre o assunto tão logo retome suas atividades".
Nos bastidores, a oposição avaliou ainda que a menção a Wagner joga novamente os holofotes sobre a Casa Civil, pasta que já foi "palco de muitas crises" nos governos do PT –referência a personagens como José Dirceu, Erenice Guerra e Antonio Palocci, todos afastados do ministério em meio à acusações.
A ala do PMDB mais próxima ao vice-presidente, Michel Temer, reagiu com cautela às menções ao ministro. Pessoas ligadas ao peemedebista dizem que o caso só explicita "o grau de imprevisibilidade" no ambiente político.
Outro lado
O ministro Casa Civil, Jaques Wagner (Casa Civil), reagiu nesta sexta (8) ao trecho trazido a público da delação premiada de Nestor Cerveró que menciona seu nome.
Por meio de sua assessoria de imprensa, o petista chamou de "ilação" a acusação do ex-diretor da Petrobras.
O ex-presidente da Petrobras Sérgio Gabrielli se disse despreocupado. "Estou no Pelourinho, vivendo as energias dos orixás baianos".
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