Monitorado
pelo centrão, Bolsonaro mostra subserviência ao establishment que dizia
combater
Jair
Bolsonaro surpreendeu em relação ao critério para escolha
do novo ministro do STF. Frustrando aqueles que contavam com o
pré-requisito, já heterodoxo, de ter que ser “terrivelmente evangélico”,
preferiu a condição de alguém que já tivesse tomado Tubaína com ele.
Foi
com essa explicação que o presidente tentou desanuviar seus eleitores em
relação à inesperada indicação
do desembargador Kassio Nunes, o mesmo que, em plantão do TRF-1, reverteu a
decisão que desautorizava a licitação indecente do STF para uma farra
gastronômica de mais de um milhão de reais: aquele famoso cardápio no qual se
exigia as mais caras marcas de vinhos e as iguarias mais sofisticadas, como a
insuperável lagosta servida com molho de manteiga queimada.
Além
de ter liberado a farra das lagostas, Kassio Nunes não é favorável à prisão em
segunda instância, não é contrário ao aborto, é simpático ao chavismo e sua
esposa já foi funcionária de senadores do PT, motivos pelos quais sua indicação
frustrou a ala mais radical do bolsonarismo e indignou os apoiadores da
operação Lava Jato.
Por
outro lado, o currículo de Nunes entusiasmou petistas e políticos
do centrão,
especialmente os mais necessitados de blindagem, como é o caso do senador Ciro
Nogueira (PP), investigado por corrupção e lavagem de dinheiro.
A
indicação também contou com aval do presidente do Senado, Davi Alcolumbre, do
presidente da OAB, Felipe Santa Cruz, do advogado de José Dirceu, Kakay, e dos
ministros do STF,
Gilmar Mendes e Dias Toffoli.
Cada
vez mais identificado com a velha política e monitorado pelo centrão, Bolsonaro
mostra subserviência ao establishment que dizia combater.
A
indicação de um nome sob encomenda para a acomodação de interesses deixa claro
que Bolsonaro não pretende levar um juiz íntegro e imparcial ao STF, mas alguém
da sua intimidade, disposto a proteger seus familiares e seus novos aliados
políticos que estão na mira da Justiça.
*Catarina Rochamonte, doutora em filosofia, autora do livro 'Um olhar liberal conservador sobre os dias atuais' e presidente do Instituto Liberal do Nordeste (ILIN).
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