Não
tem como dar certo a fusão do Ibama com o ICMBio
Faça
um esforço de imaginação. Pense que o governo convocou especialistas em
biodiversidade, restauração florestal e gestão de parques nacionais para
planejar o policiamento das ruas de São Paulo. A chance de dar certo é zero. Da
mesma forma, não tem como dar certo a comissão formada por Ricardo Salles para
estudar a fusão dos dois órgãos executivos mais importantes do Ministério do
Meio Ambiente, o Ibama e o
ICMBio. A menos, é claro, que dar certo neste caso signifique a
ruína definitiva da proteção ambiental.
Dos
sete integrantes do grupo, cinco são oriundos da Polícia Militar paulista. Um
deles esteve envolvido no massacre do Carandiru. Em 1992, 111 detentos foram
mortos quando a PM tomou o presídio para conter uma rebelião. Outro coronel foi
dirigente da Rota, violenta tropa de elite da mesma PM. É nas mãos dessa gente
que está o futuro do meio ambiente.
Ibama
e ICMBio tem funções diferentes e complementares. O primeiro é responsável pelo
licenciamento de empreendimentos econômicos com impacto ambiental e pela
fiscalização para impedir crimes, como garimpo e desmatamento, atividades que
cresceram exponencialmente sob a dupla Salles/Bolsonaro. O ICMBio cuida do
nosso imenso patrimônio natural em 334 unidades de conservação, como parques
nacionais e reservas biológicas, além da proteção das espécies ameaçadas de
extinção.
A
tal comissão criada para discutir "sinergias" entre os dois órgãos é
jogo jogado. O objetivo é extinguir o ICMBio, que homenageia em seu nome o
seringueiro Chico Mendes, assassinado em 1988, a mando de fazendeiros, no Acre.
Em entrevista ao programa Roda Viva, logo que assumiu, o ministro disse
considerar o ambientalista "irrelevante".
Não importa o que faça, Salles não conseguirá apagar a memória de Chico Mendes, reconhecido mundialmente como um herói que deu sua vida pela defesa da floresta. Já o ministro, por seus atos de lesa-natureza, terá como destino, ele sim, a irrelevância e a lata de lixo da história.
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