Na guerra
do ‘desequilibrado’ com o ‘despreparado’, Bolsonaro esquece Guedes
O
presidente Jair
Bolsonaro desautoriza Paulo Guedes num dia e no outro também e ontem o ministro foi o
último a saber do encontro do chefe e do general Luiz Eduardo Ramos com seus
dois maiores inimigos, o deputado Rodrigo Maia e o ministro Rogério
Marinho. Soube por uma foto em que só
aparecia Maia. À vontade, íntimo da “casa”, o fotógrafo foi Marinho.
Guedes
acusa Maia de boicotar as privatizações, Maia chama Guedes de “desequilibrado”
e Guedes ataca Marinho como “despreparado”, por admitir publicamente furar o
teto de gastos. Logo, a coisa está animada na cúpula do governo, com o
presidente no meio de uma guerra entre o “desequilibrado” e o “despreparado”.
Ou melhor, no centro.
O
tema da reunião, informou-se, foi de onde tirar dinheiro para o Renda
Cidadã, mas como assim? O ministro da Economia, dono da chave do cofre, não
estava presente, não foi convidado, nem sequer foi comunicado. E chiou. Como
anda com os erros à flor da pele, envolto em dúvidas e convivendo dia a dia com
a insegurança da própria equipe, dá para imaginar que a chiadeira não foi lá
das mais calmas e elegantes.
O
Planalto e Bolsonaro tiveram um trabalhão para convencê-lo de que se tratava de
um cafezinho inocente e que o presidente mantém inalterados tanto a defesa do
teto de gastos quanto a confiança e apreço pelo seu Posto Ipiranga. Se o
próprio Guedes tem lá suas dúvidas, certamente o mercado e a opinião pública
não ficam atrás.
Quando
se pergunta no governo qual a diferença entre Sérgio Moro e Paulo Guedes, a resposta é uníssona: Moro, segundo eles, com
replique nas redes bolsonaristas, foi “desleal”, “mau caráter”, uma “surpresa”,
enquanto Guedes não é nada disso e é praticamente indemissível.
Na
verdade, o que ministros diziam de Moro às vésperas da queda dele é o que dizem
agora de Guedes: um pilar do governo; o presidente sabe a importância que ele
tem; aliás, gosta muito dele, pessoalmente; a chance de ele sair é zero... Era
zero com Moro e é zero com Guedes, mas só até a próxima curva.
Paulo
Guedes é teimoso e duro na queda, não vai engolir desaforo calado, como Moro, e
depois sair atirando. Ele está guerreando pela sua posição a céu aberto,
botando a boca no trombone e se esforçando para manter unida o que resta da
equipe econômica, depois da “debandada” que lhe tirou os secretários da
Receita, do Tesouro, das Privatizações e da Desburocratização.
Só
conseguiu salvar o da Fazenda, que recebeu “cartão vermelho” do presidente, mas
se manteve – com o compromisso de boca fechada. Esse compromisso Bolsonaro não
vai arrancar de Guedes. Ficando ou saindo, ele vai continuar sendo Guedes, sem
papas na língua.
O
script continua como previsto: depois de perder uma atrás da outra no governo e
passar a ser sistematicamente criticado no mercado e na mídia por falar muito e
entregar pouco, Guedes sobe e desce, sobe e desce, numa montanha-russa. Como na
queda de Moro, ministros e assessores penduram-se no telefone para jurar que
Guedes está firme feito uma rocha, mas assim mesmo começa a bolsa de apostas
para lhe suceder, que nem vale citar aqui, para não botar mais fogo no circo.
Mais
do que nomes, aliás, tem-se uma certeza: não será nenhum nome óbvio. E por que
essa certeza? Basta ver como foram as escolhas para Educação, Saúde e
Supremo: Carlos Alberto Decotelli, Milton Ribeiro, Eduardo Pazuello e
Kassio Nunes.
Nomes fora de qualquer lista, soprados ao ouvido sensível do presidente, que leva a sério quem toma tubaína com ele e está cada vez mais se lixando para a gritaria de robôs bolsonaristas, ou chororô de derrotados. E não se assustem com um sucessor de Guedes do Centrão, ou apadrinhado pelo grupo. Sinto informar. Guedes ainda não perdeu, mas o Centrão já venceu!
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