São
absurdos demais, provocações demais... Alguma Bolsonaro está aprontando
Lá
atrás, no início da pandemia, o presidente Jair
Bolsonaro tinha um ministro da Saúde competente, informações
privilegiadas e todas as condições do mundo para fazer a coisa certa, combater
a contaminação do coronavírus e evitar milhões de doentes e milhares de mortes.
Bolsonaro, porém, optou por entrar para a história como o presidente que, entre
a vida e a morte, ficou com a morte. E, em nenhum momento, reviu, tentou
acertar. Começou errado e vai errado até o fim. À custa de vidas.
Entre
hoje e amanhã, a realidade confirma a previsão desesperada do então ministro Luiz Henrique Mandetta de 180 mil mortes. E vai aumentar.
O número volta ao patamar de 800 a 900 em 24 horas, 21 Estados e DF registram
aumento de vítimas e os leitos vão se esgotando na rede pública e privada por
toda a parte. Se você for contaminado, o risco é não ter onde cair morto – nem
vivo. E vem aí Natal, Ano Novo, festas e viagens.
O erro de Mandetta foi ser realista, transparente, formar uma bela equipe e manter a população bem informada e alerta o tempo todo. Bolsonaro não suportou o sucesso e a popularidade (maior que a dele) do subordinado. Em vez de premiá-lo, demitiu-o. O ciúme e a inveja foram maiores do que a responsabilidade com a população brasileira.
Em
vez de Mandetta, Bolsonaro preferiu ouvir ignorantes, negacionistas,
terraplanistas, lunáticos que previam no máximo 2.500 mortes, empinavam o nariz
para dizer que a covid mataria menos do que a gripe e condenavam isolamento
social, máscaras, qualquer cuidado reconhecido pelo mundo inteiro. Mesmo com a
confirmação da tragédia, o presidente continuou sempre dobrando a aposta. “E
daí?”
Tal
qual um tenente abilolado capaz de fazer planos e croquis para explodir
quartéis, Jair Bolsonaro não sossegou até nomear um general da ativa sem
qualquer brio para fazer tudo o que seu mestre mandar. É para explodir quartel?
Exploda-se. Impor cloroquina? Imponha-se. Politizar a vacina? Politize-se.
Permitir a morte de milhares? Permita-se. Afinal, “um manda, o outro obedece”.
O
Brasil chega ao final de 2020 doente, irritado, estupefato e sem perspectiva,
chocando o mundo, enquanto o general-ministro Eduardo Pazuello fala em vacina
para março, ou janeiro, ou fevereiro, ou dezembro... E ninguém acredita numa
palavra do que ele diz. E que tal ouvir o presidente falar em “finalzinho da
pandemia”? Um soco no estômago.
Era
uma “gripezinha”, “histeria da mídia”, “e daí?”, “eu não sou coveiro”. Virou
aglomeração, manifestação golpista e cloroquina. Enfim, a guerra pessoal contra
a “vacina do Dória”, ou “da China”, e agora o delírio de que a pandemia está no
“finalzinho” quando o vírus explode por toda a parte e os brasileiros assistem,
aterrorizados, à vacinação na Inglaterra e nos países que têm presidente,
ministro da Saúde e juízo.
O
presidente vive de testar limites, irritar, chocar e o que ainda surpreende é
seis ministros fazerem claque para a exposição de trajes do “rei” e da “rainha”
e que, enquanto a sociedade só pensa em vacina, o presidente passe sua “boiada”
e derrube as alíquotas de importação de armas para comprar a fidelidade de sua
base eleitoral e da “bancada da bala”, que só pensam em tiro. A população quer
vida, o presidente promove a morte.
Bolsonaro não percebe que ameaça tanto a vida dos brasileiros quanto o próprio mandato. Ou acha que pagar “um preço nunca visto antes na história” (segundo o então ministro do Turismo) basta para evitar o impeachment. Ou... pensa em convocar milicianos e armamentistas para guerrear a favor dele e contra a democracia. O fato é que ele só pode estar aprontando alguma. É erro demais, absurdos demais, provocações demais para ser normal. E ainda faltam dois anos, uma eternidade.
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