Onze
integrantes da equipe econômica se reuniram com o presidente da República e
tiraram uma foto. Dias atrás. Todos eles sem máscara no meio de uma pandemia. É
o retrato de uma equipe que se rendeu ao presidente. Aos seus erros.
Economistas sabem ler as curvas de tendências e elas mostram aumento dos casos
e das mortes. Economistas também sabem o que é hedge, seguro contra o risco. Os
equipamentos de proteção individual têm esse papel. Equipe econômica que acerta
é aquela que defende suas convicções contra as conveniências políticas ou os
equívocos do chefe do governo.
Os gestos de pessoas públicas induzem comportamentos. O não uso de máscara estimula uma atitude perigosa que tem feito vítimas. Render-se a essa imposição do presidente pode parecer apenas um detalhe, mas representa muito mais. Resume o principal erro desta equipe econômica, que é a rendição incondicional ao presidente. Mesmo quando ele está completamente errado.
Até
agora, a equipe não entregou o programa que prometeu e não o fez exatamente
pelo mesmo motivo que a leva a não usar a máscara para agradar o presidente. O
ministro Paulo Guedes não tem sido capaz de convencer Bolsonaro das etapas
indispensáveis do seu programa. Não há nada de liberal no atual governo. Guedes
não fez a abertura do comércio, mas aceitou estimular a importação de armas.
Não livros, não computadores, nenhum outro bem ficou dispensado de impostos. O
comércio livre de tributos ficou apenas para revólveres e pistolas.
Um
momento importante que salvou o projeto de consolidação do Plano Real foi quando
todos os integrantes da equipe econômica, em 1995, foram ao Palácio do Alvorada
à noite avisar que pediriam demissão coletiva caso o presidente Fernando
Henrique cedesse no meio da crise bancária. Havia pressão política contra a
intervenção no Banco Econômico, vinda de um aliado do presidente, o poderoso
Antônio Carlos Magalhães. A bancada da Bahia era grande e havia propostas
econômicas importantes dependendo de aprovação. A reunião terminou de
madrugada, mas a equipe garantiu a autonomia para fechar o banco e continuar
enfrentando a crise.
Bolsonaro
já demitiu secretário da Receita, presidente do BNDES, mandou arquivar ideias,
desidratou reformas. O país está há nove meses em uma pandemia e a equipe não
formulou uma proposta sustentável de ampliação da rede de proteção social, nem
uma proposta crível para o futuro das contas públicas. As ideias são
bombardeadas pelo presidente, e o ministro as recolhe.
A
PEC emergencial atropelou uma proposta maior e melhor feita no legislativo, a
do deputado Pedro Paulo. Teve uma tramitação confusa e foi perdendo
consistência. Foi misturada a outras duas medidas e o que economizaria bilhões
vai na verdade poupar alguns milhões. Se for aprovada. A reforma administrativa
foi engavetada por um tempo e depois esvaziada por Bolsonaro. Quando chegou no
Congresso era uma sombra da que havia sido concebida.
O
ministro Paulo Guedes com uma frequência monótona defende ideias abstratas, em
vez de formular propostas concretas. Desiste de projetos, diante da primeira
cara feia do presidente. E vive no mesmo estado de negação de Bolsonaro.
Primeiro achava que o Brasil não seria atingido pela pandemia, um equívoco de
avaliação que atrasou a adoção de medidas. Agora diz que não haverá a segunda
onda, quando as curvas de mortes e contaminações já estão subindo. Os bons
gestores trabalham com o princípio da precaução. Economistas fazem cenário e se
preparam para as contingências.
Essa foto do ministro e seus assessores ao lado de Jair Bolsonaro sem máscaras é um detalhe eloquente. Eles sorriem num país que vive uma tragédia sanitária, que está de novo se agravando, e que não tem um plano de vacinação. É fundamental que o Ministério da Economia se prepare para esse novo agravamento da Covid-19 e que faça tudo o que for da sua alçada para garantir o melhor cenário na economia, que só acontecerá com a vacinação em massa da população brasileira.
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