Prestem
atenção a quem está ocupado em combater a pandemia
O
Instituto Butantan começou a
produzir a Coronavac no Brasil, em parceria com a Sinovac. Onze
estados negociam a compra da vacina. É assim que se faz. Devemos dar uma solene
banana para a Anvisa, hoje abrigo de
milicos de pijama, agarrados a uma boquinha. Ignorância gera
subserviência.
Precisamos
de uma Agência Nacional de Vigilância Sanitária que bata continência à saúde
dos brasileiros, não a um general da ativa, subordinado a um capitão da
reserva, chutado do Exército por alimentar delírios terroristas. É subversão
demais para parágrafo tão curto.
A
agência publicou um documento autorizando o uso emergencial, mas nem tanto, das
vacinas. O texto teria ficado mais claro, a alguns ao menos, se escrito em
grego antigo. Querem saber? Não sofram —não por isso! Ignorem o que diz a
Anvisa. Prestem atenção a quem está ocupado em combater a pandemia.
Com a doença em expansão e um caso confirmado de reinfecção no país, Jair Bolsonaro decreta que “estamos vivendo um finalzinho de pandemia”. Até seus diminutivos são ofensivos e negacionistas. Nem o governo federal nem a Anvisa decidirão o destino dos brasileiros nesse particular.
A
palavra final sobre a imunização, se necessário, será do Supremo, não de
bananas de pijama ou de uniforme. Leiam os artigos 6º e 196 a 198 da
Constituição. O inciso VIII do artigo 3º da lei 13.979 dispensa o registro da
vacina na Anvisa para que se possa proceder à imunização mesmo em larga escala.
Basta a certificação de uma de suas respectivas congêneres nos EUA, União
Europeia, Japão ou China —país que é
sede da Sinovac.
A
propósito: o Supremo tem de dar celeridade às ações que lá estão e que dizem
respeito à obrigatoriedade
ou não da vacinação e aos deveres do governo federal. Nesta
quinta (10), no Rio Grande do Sul, Bolsonaro voltou a assegurar a eficácia
da cloroquina no
que chamou de tratamento precoce da doença.
É
preciso, senhores ministros, pôr alguma ordem no hospício, ainda que o
presidente do tribunal, Luiz Fux, esteja ocupado em exaltar as glórias de
Sergio Moro, o defunto moral da Lava Jato, e em encaixar a
palavra “orgia” num discurso fescenino sobre o Estado de
Direito. Se os pilotos sumiram, assumam a aeronave os que devem.
Foi,
aliás, o que fez João Doria ao anunciar para
janeiro o início da vacinação e ao estabelecer um calendário.
“Ah, ele está tentando pavimentar a sua candidatura para a Presidência, e a
vacina virou um caça-votos”, reagiram alguns. Não descarto e pergunto o que há
de errado nisso. Prefiro um político que tente ganhar eleitores com uma droga
que salva vidas a outro que faz da morte o seu palanque.
Como
brinquei no programa de rádio “O É da Coisa”, não pertenço à mesma enfermaria
ideológica do tucano. Nem mesmo votei nele em 2018. Iria fazê-lo no segundo
turno. Quando pegou carona na campanha de ódio do bolsonarismo, aparecendo em
péssimas companhias, desisti. Também não escolhi o seu adversário. O voto
obrigatório oferece alternativas.
No
caso da vacina? Aí, não! Há uma compulsão, em certos nichos da própria
imprensa, de simular independência decretando um solene “ninguém presta” e
narrando um permanente empate moral entre os litigantes. Às vezes, é assim
mesmo. Mas há casos em que a postura traduz irresponsabilidade.
Na
batalha da vacina, trata-se de fazer uma escolha entre a psicopatia política,
festivamente homicida —já “que todo mundo
morre um dia, e eu não sou coveiro”—, e o esforço de quem mobilizou
recursos para investir na ciência. A história deu a Doria e a Bolsonaro uma
pandemia. Um deles produziu negacionismo, obscurantismo, truculência,
cloroquina e uma quantidade assombrosa de frases pusilânimes. O outro apostou
numa vacina. Poderia ter dado errado, mas tudo indica que deu certo.
Se render votos, terá valido a aposta na civilização, não na barbárie, para voltar a uma antítese antiga, que hoje povoa os cemitérios. Reconheça-se: sem o ativismo de Doria nessa área, continuaríamos, 2021 afora, a contar os mortos em companhia do general patético e trapalhão e seus milicos de pijama.
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