- Folha
de S. Paulo
Anvisa
teria três dias para responder sobre uso do produto no Brasil, caso EUA o
aprovem
A vacina
que Jair Bolsonaro esnobou está perto de ser aprovada
nos Estados Unidos. Um comitê que assessora a “Anvisa americana” (a
FDA) decidiu recomendar a aplicação da vacina
da americana Pfizer e da alemã BioNTech, que já está sendo
aplicada no Reino Unido.
A FDA pode ignorar
a recomendação. Caso seja liberada pela FDA, o governo
americano pretende começar a aplicar a vacina quatro dias depois da aprovação.
Bolsonaro e seus paus mandados da Saúde teriam então
menos de quatro horas para tentar se livrar da lambança negacionista e
incompetente que promoveram, que bem poderia parar em um tribunal como
negligência criminosa.
Além
disso, estarão contra a parede, pois a lei prevê que uma vacina aprovada nos EUA
pode ser liberada por aqui em três dias.
Pela letra das leis 13.979 e 14.006, a Anvisa tem 72 horas para dar
“autorização excepcional e temporária para a importação e distribuição de
quaisquer materiais, medicamentos, equipamentos e insumos da área de saúde
sujeitos à vigilância sanitária sem registro na Anvisa considerados essenciais
para auxiliar no combate à pandemia do coronavírus”, desde que tenham sido
aprovados por ao menos uma das “Anvisas” de EUA, União Europeia, Japão ou
China.
É “dispensada a autorização de qualquer outro órgão da administração pública
direta ou indireta”. Como faz alguns anos a gente não sabe bem o que querem
dizer as leis, dada a carnavalização de intepretações e jurisprudências, quem
sabe se inventem argumentos ou chicanas a fim de deixar a norma para lá.
Pode ser também
que, em 72 horas, a Anvisa diga que a vacina da Pfizer/BioNTech não
presta. Mas terá de criticar a decisão britânica
e, talvez, também da FDA americana.
A vacina é
a BNT162b2. O estudo que relata os resultados da fase 3 de testes foi publicado
nesta quarta-feira pelo “New England Medical Journal”.
No comentário do estudo, se diz que os resultados são “impressionantes”, um
“triunfo”, que se “sustentam em qualquer análise concebível”.
O produto da Pfizer/BioNTech foi ignorado pelo governo Bolsonaro e suas
ordenanças do almoxarifado da Saúde até dia 2 de dezembro, quando o Reino Unido
a aprovou.
Desde agosto, a direção da Pfizer oferecia a vacina ao governo. A empresa diz
que não teve resposta.Depois da ofensiva de João Doria e sua “vacina chinesa”,
o vexame dos palermas da Saúde se tornou terminal.
Desde terça-feira (8), começaram a se desdizer, para usar um termo
condescendente. No dia 9, assinaram um acerto com a Pfizer a fim de importar
pelo menos 8 milhões de doses no primeiro semestre de 2021.
O general-almoxarife da Saúde chegou a balbuciar que poderia haver vacina mesmo
em dezembro. Mas ele diz qualquer coisa, em especial o que Bolsonaro mandar.
A vacina, em tese, é difícil, como todo mundo já sabe. Exige supergeladeiras.
Mas imunologistas e engenheiros brasileiros dizem que se dá um jeito e que a
vacina pode ser aplicada pelo menos em grandes cidades, com infraestrutura
melhor.
Países como Chile, Costa Rica, México, Panamá e Peru encomendaram imunizantes
da Pfizer/BioNTech. Sâo países que não parecem ter condições técnicas melhores
que as do Brasil.
É
possível argumentar que estejam fazendo besteira, digamos.
Que se prove. Mesmo com a aprovação para uso
emergencial (a vacina não poderá ser vendida), a
FDA quer que os testes científicos continuem. Apesar de evitar ou atenuar a
doença, não se sabe se vacina evita a transmissão. Todo o mundo ainda deveria
usar máscara e tomar as providências sabidas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário