Folha de S. Paulo
Seu discurso sempre foi o de acabar com as
mamatas dos políticos
Considero obviamente um escândalo o
aumento do fundo
eleitoral de 2022 que o Congresso quer nos impingir, mas devo
admitir que essa armadilha que os aliados do centrão montaram para Bolsonaro me
diverte. Prossigamos por partes.
Não faz o menor sentido destinar quase R$ 6
bilhões para as campanhas políticas do ano que vem. Há atividades em que
investir mais resulta num produto final melhor. Uma refeição preparada com bons
ingredientes tende a ser mais saborosa. Uma ponte construída com materiais de
baixa qualidade pode até tornar-se um risco ao público.
Essa lógica, porém, não se aplica à eleição. Não há nenhuma correlação entre o montante investido numa campanha e a qualidade dos dirigentes e representantes escolhidos. Ao contrário, quanto mais dinheiro houver, maiores as chances de um bom marqueteiro conseguir vender gato por lebre.
Daí que sempre defendi que as verbas
públicas destinadas aos partidos em anos eleitorais sejam modestíssimas —não há
nenhum mal em campanhas franciscanas— e decrescentes, já que a tendência é que
o rádio e a TV cedam espaço para a mais barata internet.
Devemos, porém, tirar o chapéu para a
sinuca de bico em que os articuladores da manobra deixaram Bolsonaro, cujo
discurso sempre foi o de acabar com as mamatas dos políticos —e esse é um
aspecto que os bolsonaristas raiz levam muito a sério.
Na presente
situação, ou o presidente veta a lei que embute o aumento, o que
geraria atritos com o centrão, do qual se tornou refém, ou a sanciona, o que,
além de ser escandaloso, o faria perder preciosos pontos com seus apoiadores
mais fiéis. Basicamente, ou ele perde, ou perde.
Se os votos dos parlamentares da base do
governo, incluindo os dos Bolsonaros juniores, indicam uma tendência, ela é a
de sancionar. Não me surpreenderia. Embora Bolsonaro goste de posar de macho
valente, a verdade é que, quando a coisa aperta, ele costuma amarelar.
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