Folha de S. Paulo
Coalizão lança movimento para promover
candidatos negros nas eleições deste ano
Acontece nesta segunda (6), na Ocupação 9
de Julho, em São Paulo, o
lançamento da iniciativa Quilombo nos Parlamentos. Trata-se de um movimento
de promoção de candidatos negros nas eleições deste ano, organizado pela Coalizão
Negra por Direitos. O evento contará com a presença de gigantes
da história do movimento negro brasileiro, como Milton Barbosa, Sueli
Carneiro, Hélio Santos e Cida Bento.
A iniciativa reúne candidatos de vários partidos de esquerda e centro-esquerda: PT, PSB, PSOL, PDT, PC do B, PDT e Rede Sustentabilidade. O objetivo é ampliar a proporção de negros no Congresso brasileiro. No momento, há apenas 21 parlamentares brasileiros que se declaram "pretos". É menos do que 5% dos congressistas. Etnicamente falando, se o Congresso Nacional estiver representando algum país, não é o Brasil.
Representação faz diferença. Quem, no
Congresso Nacional, tornou o racismo crime inafiançável? O deputado negro
Carlos Alberto Caó. Quem aprovou a regulamentação do trabalho doméstico, uma
ocupação fortemente racializada? A senadora negra Benedita da Silva. Quem
propôs o Estatuto da Igualdade Racial? O deputado federal (e, posteriormente,
senador) negro Paulo Paim.
A CUT teria dado todo o apoio que deu à
Marcha por Zumbi de 1995, um marco na história do movimento negro brasileiro,
se seu presidente, o agora deputado Vicentinho, não fosse negro? Talvez não. A
chegada de Joaquim Barbosa, que, além de tudo, era autor de um livro sobre ação
afirmativa, não ajudou o STF a formar seu consenso sobre as cotas em 2012?
Aposto que sim.
Cada parlamentar chega no Congresso com sua
bagagem. Ela orienta sua atuação. Os membros da bancada ruralista são mais
sensíveis aos problemas do agronegócio, os membros da bancada sindical são mais
sensíveis às disparidades no mercado de trabalho. Se isso é verdade, é forçoso
concluir que a falta de parlamentares que sofreram com a discriminação racial,
com os muitos e sutis mecanismos pelos quais ela se manifesta, cria um déficit
de legislação a favor dos negros brasileiros.
O leitor pode reclamar que os partidos que
participam do Quilombo nos Parlamentos são de esquerda ou centro-esquerda. De
fato, há políticos de direita que prestaram serviços importantes às lutas dos
negros brasileiros. José Sarney criou a Fundação
Palmares quando presidente e apresentou projeto de lei instituindo
cotas nas universidades em 1999, quando era senador. FHC não é, na pessoa
física, de direita; mas no seu governo de centro-direita, Hélio Santos, um dos
líderes que discursarão nesta segunda, presidiu um grupo interministerial de
promoção da causa negra.
Entretanto, em algum momento dos últimos 20
anos, a direita resolveu começar uma guerra cultural contra o movimento negro.
O falecido DEM entrou com ação no STF pedindo o fim das cotas
nas universidades. O quase-falecido governo Bolsonaro é radicalmente
engajado na guerra cultural e nomeou para
presidente da Fundação Palmares um sujeito que, na militância negra,
inspira mais pena do que revolta.
Enfim, se a esquerda deu mais atenção às
demandas do movimento negro, parabéns à esquerda. Torçamos para que a direita
se reposicione nos próximos anos.
No bicentenário da Independência, seria ótimo se o Brasil ganhasse um Congresso Nacional com a sua cara.
Um comentário:
Saudade do tempo que a direita,ou extrema-direita estava no armário.Eles querem que eu volte pro armário,fiquei 30 anos sem ter meu lugar de fala,hoje eu falo tudo,ser homossexual continua sendo um carma tenebroso,ao menos eu já posso desabafar,antes nem isso.
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