O Estado de S. Paulo
Desespero de Bolsonaro o leva a se perder em iniciativas estúpidas como a de uma CPI da Petrobras. A oposição não pode acompanhá-lo nesse abismo
O desejo de conquistar eleitores produziu
um psicodrama político em busca de soluções para conter o preço da gasolina.
Tudo indica que os atores reconhecem seu fracasso, mas se esforçam para mostrar
que deram tudo para evitar a derrota.
Talvez, lá atrás, tenha havido uma modesta
saída, a formação de um fundo com os dividendos do governo, sócio majoritário
da Petrobras, destinado a suavizar o aumento dos preços, determinado pela conjuntura
internacional. Agora, é tarde, e as tentativas de última hora parecem cenas de
um teatro do absurdo.
Durante duas semanas, o Congresso Nacional se dedicou a aprovar uma redução de ICMS para baixar os preços. Todos sabiam que eles estavam defasados e que, no primeiro movimento de atualização, a Petrobras neutralizaria com um novo aumento qualquer variação de ICMS. Resultado: Congresso funcionando custa dinheiro, Estados com menos recursos para educação, saúde e segurança, e, em termos de preço na bomba, resultado nulo.
No fim de semana, Bolsonaro levantou a
hipótese mais fantástica: uma CPI da Petrobras. No seu discurso, intimidava os
sócios minoritários com um prejuízo de R$ 30 bilhões, como se alguma CPI mágica
pudesse produzir perdas para os minoritários sem atingir o sócio majoritário,
que é o Estado.
Bolsonaro anunciava orgulhosamente um
movimento para atingir o próprio governo que dirige – algo inédito.
Alguns analistas acharam que a oposição
também apoiaria o governo para atingir a Petrobras. Felizmente, isso não
aconteceu. Seria algo mais extraordinário ainda: governo e oposição juntos
tentando liquidar uma empresa pública.
As tentativas não param por aí. Líderes
reunidos tentam aumentar o imposto de exportação para estimular o refino no
interior do País. Mas e as refinarias que faltam? Será que brotariam de agora
até o momento das eleições? Pergunta inútil porque, na verdade, o resultado não
interessa, mas apenas o movimento, a encenação que transmite ao eleitor a falsa
ideia de que seu desejo será satisfeito.
Por mais que o governo se lance contra
dirigentes que ele próprio indicou para a Petrobras, por mais que se crie a
confusão, será muito difícil de escapar do desgaste provocado pela gravidade da
crise econômica, da qual o preço do combustível é apenas um importante
componente.
Interessante observar como nos debatemos
neste labirinto no momento em que a Colômbia troca de governo e o presidente
eleito, Gustavo Petro, se dispõe exatamente a reduzir a dependência de
combustíveis fósseis e caminhar para uma economia de baixo carbono.
E a Colômbia é logo ali: de Tabatinga (AM)
a Leticia basta andar alguns metros. As preocupações, no entanto, distam
milhares de quilômetros.
Seria, é claro, inadmissível não tratar do
preço dos combustíveis neste momento. Todos os governos o fizeram. Mas o ideal
é que isso fosse discutido com base técnica e com uma visão realista. Talvez
por esse caminho se atenuasse o impacto no bolso de todos, principalmente os
mais vulneráveis. Mas, num ano de eleição, além deste necessário movimento
imediato, é preciso olhar para a frente.
Não podemos continuar agindo como se a
gasolina fosse um combustível eterno. Nem acreditar que as estradas rodoviárias
são as únicas que podem escoar produtos.
Está mais do que na hora de combinar
esforços fundamentados para reduzir os preços, mas também as medidas de
transição para um futuro de baixo carbono, em sintonia com os esforços para
viabilizar a vida humana no planeta.
Limitar-se a neutralizar o preço da
gasolina, com recursos limitados, é uma batalha de Sísifo. Hoje, o preço está
alto porque há uma guerra; amanhã, se terminar a guerra, o preço pode aumentar
porque crescerá o otimismo econômico. Sem contar com o fato de que bilhões de
dólares estão sendo investidos numa economia menos poluente e qualquer estímulo
ao uso do petróleo servirá, também, para neutralizar o que se gastou até agora.
Verdade é que a guerra embaralhou um pouco
as tentativas de progresso. Há um impulso para produzir mais petróleo fora da
Rússia; e a redução do gás que os alemães importavam os faz retroceder ao
consumo de carvão.
Mas a janela que se abriu com governos
voltados para o futuro, como é o caso do Chile e o da Colômbia, pode indicar
uma etapa na América Latina.
No caso colombiano, o esforço de realizar a
transição para a economia de baixo carbono pode abrir possibilidades de
cooperação continental.
Sem contar o fato de que, ao lado da
questão energética, um outro tema nos aproxima não só dos colombianos, como de
outros vizinhos: a Amazônia, com seus grandes desafios de preservação,
sustentabilidade e segurança, diante do poderio do crime organizado.
Tanto a economia de transição para o baixo
carbono como o desenvolvimento sustentável da Amazônia são grandes avenidas de
oportunidade. Temas bem maiores do que um único e, até o momento, inútil
esforço para baixar o preço do petróleo.
O desespero de Bolsonaro o leva a se perder em iniciativas tão estúpidas como a de uma CPI da Petrobras. A oposição não pode acompanhá-lo nesse abismo.
Um comentário:
A campanha do Bozo tá difícil,eu acho que nem distribuindo gasosa de graça vai decolar.
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