Valor Econômico
Direita lança mais candidatos, turbinados
pelo Orçamento secreto
A disputa eleitoral esquenta a cada dia, e
na sexta-feira ela entra na reta final, com a propaganda eleitoral na TV e no
rádio. Embora todas as atenções estejam concentradas na campanha presidencial,
é bom ficar de olho na briga pelas cadeiras do Congresso, pois ela definirá as
condições de governabilidade do próximo ocupante do Palácio do Planalto.
Há muitos dados reveladores na relação de
candidatos à Câmara dos Deputados neste ano. O número de postulantes cresceu
quase 19,6% em relação a 2018, situação previsível dada a mudança nos
incentivos provocada por inovações na legislação eleitoral ocorridas nos
últimos anos.
De um lado, as coligações foram proibidas
nas eleições proporcionais (deputados federais, estaduais e vereadores), o que
impede que partidos se associem para pegar carona nas votações uns dos outros.
Além disso, ter um bom desempenho nas eleições para a Câmara tornou-se vital para os partidos pequenos, pois a cláusula de desempenho exige um percentual mínimo de votos para ter acesso, nos próximos quatro anos, aos R$ 4 bilhões do fundo partidário e ao horário eleitoral “gratuito” (2% dos votos válidos em todo o Brasil para a Câmara dos Deputados, ou 11 deputados federais eleitos, tudo isso em pelo menos nove Estados).
Para completar, a performance dos partidos
na eleição para a Câmara é a que tem maior peso na distribuição do fundo
eleitoral, que segundo os valores atuais destinará aos partidos R$ 4,9 bilhões
em 2024, com outra parcela em 2026.
Do ponto de vista partidário, o apetite dos
partidos de direita está mais forte neste ano. Conforme pode ser visto no
gráfico, o Republicanos lidera o ranking, com 520 postulantes. Na sequência
aparecem União Brasil (510), PP e PL (com 502 cada), Podemos (com 494) e PTB
(489).
Principal partido de esquerda do país, o PT
lançou apenas 369 candidatos, sendo superado, no mesmo campo, por PDT (466) e
PSB (447).
Com valores tão altos em jogo, é natural
que os partidos lancem o máximo possível de concorrentes a uma cadeira na
Câmara; na média, são 20 aspirantes para cada vaga. O problema, porém, é que
quem já está lá não pretende ceder seu lugar - e quem perdeu a vez em 2018 quer
a todo custo voltar ao poder.
Segundo os dados do Tribunal Superior
Eleitoral, 453 deputados federais tentarão a reeleição este ano - índice
recorde desde a redemocratização (88,3%, contra uma média de 80% entre 1990 e
2018). Além dos fatores descritos acima, é bem provável que a preferência na
partilha do fundão, bem como a farra na repartição dos bilhões do Orçamento
secreto, tenha gerado um excesso de confiança na reeleição dos atuais
parlamentares.
Isso não quer dizer, porém, que a fatura
está liquidada. Com o fim da Lava-Jato, muitos figurões da política ensaiam um
retorno ao Congresso depois de ficarem quatro anos a ver navios por não terem
disputado (alguns estavam inclusive presos) ou terem sido derrotados nas urnas
em 2018.
Por falar em experiência prévia, um terço
dos candidatos à Câmara (33,6%) são completamente virgens em matéria de
eleição. Outros 44,5% já se aventuram antes, mesmo que seja para vereador, mas
nunca se sagraram vencedores. Dos 10.332 concorrentes, apenas 2.257 (21,8%)
foram consagrados nas urnas pelo menos uma vez entre 1998 e 2020.
Neste aspecto, o perfil dos candidatos
petistas é marcadamente diferente de seus rivais. A legenda de Lula é, ao mesmo
tempo, o partido que proporcionalmente lança menos novatos (17,1%) e o que tem
um quadro de candidatos com maior experiência eleitoral (22% foram eleitos pelo
menos duas vezes entre 1998 e 2020).
Com o Centrão lançando mais candidatos, e
ainda turbinados pelo orçamento secreto, e o PT demonstrando dificuldades de
renovação, surgem sinais de um Congresso ainda mais conservador no horizonte.
*Bruno Carazza é mestre em
economia e doutor em direito, é autor de “Dinheiro, Eleições e Poder: as
engrenagens do sistema político brasileiro” (Companhia das Letras)”.
Um comentário:
O Centrão com a sua Tchutchuca, e o PT com seus mensaleiros. Será possível piorar nosso panorama?
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