Cá estou eu de volta às minhas colunas semanais, iniciadas há 11 anos.
Fechadas as urnas é hora de iniciar a
reflexão sobre o aprendizado herdado das eleições de 2022. A democracia é assim.
Um processo imperfeito, que carrega as virtudes e as falhas humanas, onde todos
– partidos, instituições, líderes, cidadãos, sociedade – aprendem com erros e
acertos, com a convivência plural e democrática com os que pensam diferente,
com a difícil tarefa de respeitar a legitimidade dos adversários e o
pronunciamento soberano da maioria da população sobre o rumo a seguir.
Nenhum poder derivado das urnas é absoluto. O Estado democrático de direito visa proteger as minorias e os indivíduos do apetite autoritário que possa surgir de qualquer vitorioso. A eleição se dá entre adversários e não entre inimigos de guerra que devam ser exterminados. Nem o paraíso, nem o inferno se instalarão a partir de 1 de janeiro, quando os novos governantes assumirem. Nada é definitivo, a convivência entre os contrários permanecerá e novos embates ocorrerão no futuro, confirmando ou retificando rumos escolhidos.
Ainda há um rescaldo a ser administrado.
Setores significativos da população ficaram insatisfeitos. É natural. Ainda
mais num ambiente de polarização tão radical como o de 2022. O processo
político numa democracia é assim. Às vezes ganhamos, às vezes perdemos, e a
vida segue. Quem ganhou governa, quem perdeu fiscaliza e faz oposição.
Diante do forte inconformismo de muitos na
internet, nas conversas bilaterais e nas ruas, reproduzi nas minhas redes
sociais um pronunciamento do ex-presidente americano Barack Obama após a
derrota, em 2016, de sua candidata Hilary Clinton para Donald Trump, que creio
ser útil reproduzir aqui:
“Muitos americanos estão felizes, muitos
americanos não estão muito felizes. Mas assim funcionam as eleições. Essa é a
natureza da democracia. Ela é dura. Às vezes, duvidosa e barulhenta. Não é
sempre inspiradora. Às vezes você perde um argumento. Às vezes
você perde uma eleição. É assim que a política funciona. Nós tentamos convencer
as pessoas de que estamos certos. E então, as pessoas votam. E se perdemos, nós
aprendemos com nossos erros, fazemos algumas reflexões, sacodimos a poeira, nos
erguemos e voltamos ao jogo. Nós vamos atrás. Tentamos ainda mais da próxima
vez. O ponto é que todos sigamos em frente com a presunção de boa fé em nosso
povo, essencial para uma democracia vibrante e funcional. Como eu já disse
antes, eu penso neste trabalho como uma corrida de revezamento. Você pega o
bastão, corre o melhor que puder, com a esperança de quando for a hora de
passar o bastão, você está um pouco à frente, você teve progresso. E eu posso
dizer que nós fizemos isso, e eu quero garantir que a passagem do bastão seja
bem executada, porque acima de tudo, estamos todos no mesmo time”.
As eleições foram livres. A população teve
acesso a todas as informações necessárias para decidir o seu voto. As urnas
eletrônicas mais uma vez provaram sua eficácia. Foram eleitos deputados,
senadores, governadores e presidente, de esquerda, de direita, de centro.
Agora é diplomar e dar posse aos vitoriosos. E pensar no futuro. A democracia brasileira passou por mais um difícil teste. E saiu fortalecida. A liberdade e a democracia são valores universais e permanentes. Viva a democracia!
4 comentários:
Marcus Pestana sempre preciso, livre e consciente do papel político e Democrático! Mais um grande artigo para reflexão 👏👏👏
Sem pretender estar de qq dos lados, a análise deve partir da decisão inédita do STF diante da declaração do ministro Marco Aurélio sobre o processo do candidato Luiz Inácio, pois a final o que está atrás de tudo isso na decisão de ontem do STF e durante a gestão do presidente eleito? Algum prognóstico? Com a resposta o comentarista Marcus Pestana.
Perfeita sua análise. As urnas são sábias, e no caso das eletrônicas, eficientes.
Festival de obviedades... "A população teve acesso a todas as informações necessárias para decidir o seu voto." Nenhuma palavra sobre o festival de MENTIRAS espalhadas pelas redes principalmente bolsonaristas, mas também pelas lulistas?
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