sexta-feira, 17 de fevereiro de 2023

Vera Magalhães - Parlamento clama por seu papel

O Globo

Lira dá recado de que novo marco fiscal e demais propostas da agenda do governo dependem de aceno ao Centrão

Passados os traumas do fim do orçamento secreto e do 8 de Janeiro, um em seguida ao outro, e uma eleição para o comando das Mesas das duas Casas Legislativas em que todos jogaram na retranca, o Congresso começa a se recompor para ser ouvido e contemplado em troca de assegurar a Lula a governabilidade que, na ponta do lápis, ele ainda não tem.

Tanto Arthur Lira quanto Rodrigo Pacheco, uma vez reeleitos, começaram a emitir de forma mais clara os sinais de como enxergam a, até aqui, não muito bem explicitada plataforma de governo do presidente e até que ponto estão dispostos a colaborar para sua implementação.

Não se sabe se os dois combinaram, mas os presidentes da Câmara e do Senado falaram no mesmo tom na crise que opôs Lula e o Banco Central: em favor da manutenção da autonomia da instituição, aprovada no Legislativo em 2021, e contra arroubos pela queda dos juros na marra, embora fazendo coro à preocupação do presidente com as taxas altas que seguram o crescimento da economia.

Agora que Fernando Haddad anunciou, de forma positiva, a antecipação da apresentação do novo marco fiscal para março, Lira tratou de lembrar a ele que será preciso bater à sua porta para essa negociação andar a contento.

Quando o político alagoano, recém-saído do bolsonarismo, fala que o texto do novo arcabouço fiscal não pode ser “radical nem para um lado nem para o outro”, não é ingenuidade que essa frase faça pouco ou nenhum sentido técnico em matéria fiscal. Porque não é disso que Lira está falando, ao menos não apenas.

Sim, o recado é que os partidos do Centrão não toparão mais dar polpudos cheques para Lula gastar indefinidamente. Não sem contrapartidas. Mas o sentido mais amplo de sua fala é que o governo precisa ser mais ativo ao procurar os partidos que eram base de Bolsonaro se quiser aprovar medidas que necessitam de mudanças na Constituição, como é o caso do tão importante substituto do teto de gastos.

O Republicanos já está na pista, dando todos os sinais de que deseja colaborar com Lula. O PP de Lira está ali na troca da pele, com alguns senadores e deputados, o presidente da Câmara entre eles, se esmerando em fazer a esfoliação para acelerar o processo de muda.

Restarão como oposição raiz o PL, já que Valdemar Costa Neto resolveu manter os Bolsonaros como chamarizes, apesar do alto custo de manutenção que Jair e companhia trazem e dos riscos judiciais incluídos, e o Novo, partido onde Romeu Zema planeja acomodar a direita que pretenda se dissociar de Bolsonaro sem precisar abrir mão de bandeiras ditas conservadoras, algumas das quais francamente reacionárias.

Para isso, o governador de Minas e presidenciável em 2026 pretende atrair governadores, prefeitos, senadores e deputados, fazendo a prospecção no próprio PL e entre aqueles do União Brasil e do Podemos que estejam insatisfeitos com o flerte com Lula.

Lula sabe que o momento de fazer cálculos da coalizão de que dispõe chegou. O anúncio do reajuste do salário mínimo e do aumento da faixa de isenção do Imposto de Renda, feito nesta quinta-feira em entrevista à CNN Brasil, é parte da preocupação dele em sair da agenda de confronto inócuo e começar a colocar as promessas de campanha para andar.

Mas as duas medidas acabam reforçando a sensação de que o governo, até aqui, só pensa em gastar, e não em mostrar quais são seus “fundamentos” fiscais, para tomar emprestado a palavra que Fernando Haddad disse ser a chave. Até aqui, esses fundamentos não estão claros.

Começarão a ficar quando o tal marco for tornado público. Lira já se colocou na posição de quem pode ser tanto o avalista quanto o obstáculo para o andamento da proposta. Quer ser chamado para a mesa de negociação.

 

3 comentários:

Anônimo disse...

Parlamento gigolando o Executivo...
Novelinha podre!

Anônimo disse...

Qual o ladrão e sua quadrilha no governo não tem como chorar estão com a chave do cofre

ADEMAR AMANCIO disse...

Estão falando que o aumento é só de 18 reais,esqueceram do aumento do início do ano.