O Globo
A união evitaria dois males: ter como núcleo
de oposição uma seita de fanáticos e deixar o PT como único polo de poder
Na Espanha, o Partido Popular (PP) e o
Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE) são organizações políticas com
perfil claramente definido. O mesmo vale para a social-democracia e a
democracia cristã alemã ou para partidos análogos em Portugal. Nesse sentido, o
único partido de verdade que sobrou no Brasil é o PT.
Um país, porém, precisa ter o bom debate. O
bolsonarismo é uma distorção aberrante que surgiu na política brasileira em
2018 e torço para que, assim como surgiu, se dilua, pois só trouxe desordem,
grosseria e caos onde antes havia certa racionalidade.
Por outro lado, julgar que os partidos que
compõem o Centrão refletem uma concepção liberal do país é uma manifestação de
humor, haja vista o pragmatismo que rege o comportamento desses partidos. A
questão é: quem fará o embate político e ideológico contra o PT?
Gilberto Kassab — um dos políticos mais argutos do Brasil — disse certa vez, em tom de pilhéria, que seu partido — o PSD — não era “nem de direita, nem de esquerda, nem de centro”. Eu me permitiria discordar, de certa forma, dessa interpretação, por considerar que o partido é, simultaneamente, “de direita, de esquerda e de centro”.
Com isso quero dizer que não ignoro as
evidências de que ele — assim como o Centrão — tem um pé em cada canoa, mas
reconheço que se insere dentro de certa tendência moderna a abrigar políticos
de correntes com nuances entre si que, tendo algumas diferenças em relação a
aspectos da vida nacional, podem comungar de um conjunto de opiniões que
justifiquem pertencer a um mesmo partido, combinando elementos de unidade com
outros de diversidade.
Ao mesmo tempo, pelo papel que Kassab teve
nas origens de sua carreira, penso que tem mais densidade potencial para ser o
baluarte de certas posições associadas à defesa do livre mercado e das virtudes
de um capitalismo dinâmico.
Por outro lado, o partido que, depois da
redemocratização, polarizou com o PT durante 20 anos — o PSDB — ficou limitado
a um papel bisonho, depois do fiasco nos processos eleitorais de 2018 e 2022.
Ele, que chegou a rivalizar com o PT, o PMDB e o antigo PFL, como um dos
grandes partidos do país, ficou reduzido a uma expressão ínfima, com pouco mais
de dez deputados, quando tinham sido mais de 50 nas eleições de 2010.
A mudança das regras acerca da cláusula de
barreira aprovada anos atrás irá provocar um enxugamento do número de partidos
no Brasil. Nada impede, porém, que partidos que poderiam continuar a existir se
associem de forma autônoma para formar uma única agremiação.
Foi o caso da fusão entre o PSL e o DEM, que
gerou o União Brasil. Esse movimento, porém, foi meramente eleitoreiro,
despojado de qualquer solidez ideológica e precariamente articulado, tendo sido
uma espécie de cruzamento de gato com cachorro, do qual saiu um ser amorfo que
até agora ninguém sabe o que representa.
A sugestão aqui feita é que, assim como houve
essa fusão, PSD e PSDB pensem em algum momento em se juntar, com um olhar para
os próximos 20 anos. O PSD pelo papel-chave de aglutinação que terá na política
brasileira. E o PSDB por ter o que falta ao primeiro: história e conteúdo.
Uma fusão entre os dois, de preferência com a
“marca” dos tucanos, criaria um partido respeitável próximo de 60 deputados,
que poderiam chegar a cem em uma ou duas eleições, dando um esteio para a
política nacional e fazendo em relação ao PT o contraponto que este, com grande
competência, fez quando FH governava o país, nos anos 90 e começo da década de
2000.
Seria a melhor forma do Brasil evitar dois
males: i) ter como polo de oposição uma seita de fanáticos; e ii) ter o PT como
único polo de poder, atraindo nacos de apoios sem qualquer base programática.
Sei que, em São Paulo, os dois partidos vivem às turras, mas, olhando para o
país, vale a pena pensar em algo como o que está sendo aqui proposto.
Um comentário:
Ok
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