Folha de S. Paulo
Ameaça da inteligência artificial não é nada
perto da barbárie medieval das disputas municipais
Aconteceu em Alagoas. Uma semana antes do
primeiro turno, um juiz eleitoral mandou suspender a campanha no município de
Taquarana. Ele relatou "agressividade exagerada", "denúncias de
perseguições" e "uso de arma de fogo" na disputa. Proibiu
carreatas, passeatas e comícios. Pediu o reforço de tropas federais e
determinou: ninguém poderá comemorar o resultado da votação em locais públicos.
Nos gabinetes da Justiça Eleitoral, muita gente acreditou que a inteligência artificial seria o maior desafio desta campanha. Mas uma boa parte da política do país está mais próxima de tempos medievais do que de qualquer revolução tecnológica.
As disputas deste ano provaram a presença
escancarada do crime organizado na política dos municípios. A corrupção e
o dinheiro vivo viraram parte da paisagem. O jogo baixo e a porradaria se
tornaram armas comuns na campanha. Em Taquarana, aliados de um candidato
desfilaram com a foto do rival pregada num caixão, de acordo com o UOL. Do outro lado, um militante avisou aos
adversários que era hora de "apanhar e ficar calado".
O tráfico, as milícias e o garimpo
ilegal abraçam a
atividade política como parte dos negócios. Lançam candidatos
próprios e patrocinam outros nomes para controlar contratos, aprovar leis de
seu interesse e acumular poder. As ferramentas das quadrilhas são conhecidas:
assassinatos, ameaças, bloqueio de territórios e coação de eleitores.
Bolos de dinheiro viajam em porta-malas para
abastecer o caixa dois
das campanhas ou simplesmente para comprar votos. Às vezes, a
grana voa pelos ares. Em Coari (AM) um candidato foi detido depois de fazer uma
chuva de dinheiro em praça pública. A lei e as restrições ao financiamento de
campanhas não assustam tanta gente. Prisões são tratadas como efeitos
colaterais.
A corrida pelo comando da maior cidade do país ficou marcada por uma cadeirada e um soco na cara. Seriam só asteriscos pitorescos se o eleitor pudesse ter a certeza de que o próximo prefeito terá um programa para resolver o transporte público cruel, o ar irrespirável, a degradação apavorante de bairros inteiros e outras tragédias urbanas.
2 comentários:
"O tráfico, as milícias e o garimpo ilegal abraçam a atividade política como parte dos negócios."
O bolsonarismo já havia abraçado as milícias e o garimpo ilegal há décadas. Agora, o crime organizado retribui o abraço inicial dos bolsonaristas. Bolsonaristas, tão fraternos com milicianos e militares golpistas e tão agressivos/violentos com as mulheres (jornalistas, feministas, etc.)!
Pois é,BB.
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